As ideias são perigosas, e quem as tem é – inevitavelmente – um alvo a abater. Essa frase poderia ter sido pensada por um político, num momento reflexivo, enquanto jantava à custa do contribuinte. Não só essa, centenas delas. Todas as possíveis, que demonstrem o asco que a maioria dos políticos possui dos seres que pensam.
Poder, no latim, tem a mesma raiz que a palavra Potência, ou seja, a “capacidade de fazer algo, de empreender algo”. Com o correr das décadas, o significado foi alterado, passando a uma “capacidade de impor, de mandar, e de submeter os outros à própria vontade”. Poder, atualmente, também pode querer dizer Autoridade (geralmente acompanhada por demonstrações arrogantes de imposição, de dominação, e de brutalidade psicológica).
Poucos são os políticos com ideias, e detentores de conhecimento (sujeito – cognoscente e o subobjecto – cognoscível). A maioria é boa de conversa fiada, o que demonstra um certo toque argumentativo, aliado a algum carisma, ao abraço fofinho aos idosos, aos beijinhos doces nas bochechas dos pequerruchos e às constantes demonstrações de certezas absolutas sobre coisa nenhuma, porém com muito patuá pelo meio. Caminho perfeito para conquistar o voto dos absortos.
O indivíduo que possui opiniões e saber não é bem visto nas rodas partidárias (ou no seio dos movimentos políticos que vão nascendo e morrendo tal e qual cogumelos), pois traz em si a possibilidade de ser um político sério, correto, justo e, principalmente, honesto. Um perigo para os dias que correm.
As teorias acerca do Poder foram esmiuçadas até à exaustão, especialmente por pensadores de renome mundial, entre eles: Michel Foucault (1926-1984), Norberto Bobbio (1909-2004), Karl Marx (1818-1883), Aristóteles (384 a. C.-322 a. C.), Maquiavel (1469-1527) e Nietzsche (1844-1900), portanto, pouco há a acrescentar, apenas a constatar.
O Poder, quando está nas mãos de pessoas sem consistência intelectual, com pouca sabedoria e nenhuma criatividade, inevitavelmente, transforma-se no caminho mais rápido para a corrupção e o nepotismo. Não há como solucionar o problema, pois a Democracia refundiu-se numa arma contra ela própria e, por consequência, uma facilitadora de itinerários obscuros.
Depois, consideramos que a Ciência Política, e as estruturas jovens existentes nos partidos políticos, possam vir a alterar esse cenário, ledo engano. As segundas servem para fornecer “carne para canhão”, ou seja, a mão-de-obra barata que pode levar o chico-esperto a eleger-se. Claro que existe pagamento, pois, assim que a máquina partidária começa a funcionar e a galgar posições políticas, de imediato quem está na base é elevado a patamares de segurança financeira, através de uma (às vezes pouco) discreta acolhida de cargos autárquicos.
A Ciência Política, existe, apenas, para cimentar o Poder instalado (sendo amplamente responsável por entender e ajustar todas as questões concernentes a esse mesmo Poder na sociedade), determinar regras e princípios para o bom funcionamento das instituições sociais (setores económico, jurídico, autárquico e governamental), sendo comum ouvirmos que, quem conclui a sua formação nessa área está plenamente preparado, intelectual e teoricamente, para organizar e executar todos os meios de ação existentes, que possam aproximar os seres humanos das instituições em geral, ou seja, sendo um motor benéfico para a vida coletiva. Infelizmente, tudo isto é meramente figurativo, pois o que se vê é o engrossamento das hostes que alimentam o ataque à real Democracia.
Samuel Langhorne Clemens (1835-1910), mais conhecido como Mark Twain, desfere um golpe objetivamente lúcido ao sistema, quando diz que “o princípio da democracia é dar e receber; dar um e receber dez”. E, assim, caminhamos e investimos… naqueles que não pensam, para não atrapalhar os verdadeiros intentos dos eleitos.
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