Escaparate
Numa certa noite, após a leitura da “Batalha de amor em sonho de Polifilo”, entabulei uma animada conversa com amigos caldenses acerca da “Ordem da Névoa ou do Nevoeiro”. O que mais nos chamou a atenção foi o facto de essa organização possuir em suas fileiras nomes muito sonantes, como por exemplo Júlio Verne (1828-1905), fazendo-nos sentir uma ponta de saudade daquilo que não vivemos (estar na mesma sala com esse imenso nome da literatura mundial seria motivo de regozijo eterno).
Quem leu esse autor francês (ou outros que beberam de fontes herméticas), e possui algum conhecimento esotérico, acaba por perceber todos os símbolos místicos que o mesmo utilizou nos livros que publicou, sinais que lhe conferem uma curiosa aura de áugure (o que pode, instintivamente, nos rincões mais profundos da “criativa” mente humana, incentivar as mais variadas ideias conspiratórias).
A “Ordem da Névoa ou do Nevoeiro” surgiu no século XVI, pela mão de Sébastien Gryphe (1492-1556), um renomado impressor e editor. Os “irmãos” dessa Sociedade Secreta possuem determinados códigos de identificação, nomeadamente: “Eu fiz levantar no céu uma luz indefectível, e cobri toda a terra como que de uma nuvem…”, ao que outro responde: “…armei a minha tenda nas alturas, e o meu trono ficava sobre uma coluna de nuvens”. Essa Confraria, segundo consta, é orientada pela mão de Deus, o que lhe dá um forte sopro de misticidade.
Durante décadas, em diversos países da Europa, a “Ordem da Névoa ou do Nevoeiro” arrecadou e partilhou o néctar da sabedoria, através da criação de inúmeros salões de estudo, recheados com enormes bibliotecas e arquivos históricos, preparando, assim, muitos “irmãos” para funções importantes na política, na religião, etc.. Infelizmente teorias da conspiração mancharam a história dessa Ordem. Algumas, inclusive, anunciando que os seus propósitos são a destruição do Cristianismo; a tomada de poder em países estratégicos; o investimento na ascensão de um só líder europeu; a criação de uma nova ordem mundial, etc..
Todas as Sociedades Secretas possuem livros de excelência, o da “Ordem da Névoa ou do Nevoeiro” é a “Batalha de amor em sonho de Polifilo”, nele dá-se valor à existência da vida e aos enigmas das utopias. Incentivando os seres humanos a buscar o que de melhor existe em cada um de nós, antes de empreendermos uma viagem ao centro da terra, ou aos confins do universo.
Na aceção antropológica e histórica, essa organização é vocacionada para a união da humanidade através da cultura e da educação. Porém, assim como ocorre com outras sociedades secretas, a ambição, a ganância, a intriga e a falta de amor pelo próximo, vieram conspurcar os seus grandes ideais.
Em tempos passados, o secretismo era exigido em determinadas organizações pois os “irmãos” poderiam ser atirados à fogueira se os seus rituais fossem tornados públicos. A própria Igreja Católica possui rituais encobertos que só o são para quem deles nunca participou. Aliás, como se pode perceber nitidamente, o Vaticano é o que mais se assemelha a uma sociedade secreta.
Quem, de facto, administra o nosso planeta não está escondido por uma capa de secretismo, sempre esteve à luz do sol, a corromper os sistemas políticos em vigor e a locupletar-se com a miséria alheia.
Não há nada mais místico e oculto do que o cérebro independente e a alma sã. Estas sim são as verdadeiras sociedades secretas, numa amplitude tão impressionante que nos desconhecemos inteiramente. Devido a isso, ancoramos a nossa existência no divino, no sobrenatural, no fantástico, no inatingível, dando vida a teorias da conspiração, e não àquilo que nos torna verdadeiramente herméticos.
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