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A lumpenização da produção de inteligência artificial

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A inteligência artificial (IA) é produzida por nós enquanto utilizadores, mas sobretudo por núcleos laborais extremamente precários que, segundo dados do Banco Mundial, abrangem 435 milhões de pessoas. Trata-se de 12% da força de trabalho global, espalhada por países como Bangladeche, Filipinas, Índia, Madagáscar, Venezuela ou países africanos de língua inglesa, como a África do Sul e o Quénia.

A inteligência artificial (IA) é produzida por nós enquanto utilizadores, mas sobretudo por núcleos laborais extremamente precários que, segundo dados do Banco Mundial, abrangem 435 milhões de pessoas. Trata-se de 12% da força de trabalho global, espalhada por países como Bangladeche, Filipinas, Índia, Madagáscar, Venezuela ou países africanos de língua inglesa, como a África do Sul e o Quénia.

Para a IA conseguir distinguir vários tipos de veículos ou identificar os ingredientes de diversas saladas ou compor textos com frases coerentes, os respectivos algoritmos têm de ser “treinados” com biliões de exemplos. Um pequeno número desses exemplos é involuntariamente fornecido pelos utilizadores; mas o grosso é tratado pelos tais 435 milhões de pessoas espalhadas pelo chamado Sul Global. Estas pessoas, os chamados microtrabalhadores, trabalham por conta própria. Vão à plataforma, inscrevem-se, criam um perfil de trabalhador e começam a trabalhar. Cumprem tarefas que duram alguns segundos. São microtarefas ao alcance de uma criança, como, por exemplo, desenhar caixas à volta de narizes, bocas e olhos e adicionar-lhes um hashtag, em milhões de fotografias, para que o algoritmo de reconhecimento facial “aprenda” a identificar rostos. Este trabalho é escassamente remunerado — alguns cêntimos ou menos de um cêntimo, por vezes até pequenas porções de feijão ou arroz.

É o novo lumpemproletariado — trabalhadores pobres cujo valor não é reconhecido. Mas são estes os trabalhadores que estão a criar uma das mercadorias mais valiosas de hoje, a IA. A partir das suas casas, realizam microtrabalhos, em pequenas comunidades informais, para quem a electricidade é demasiado cara. Não têm bom acesso à internet e nem todos tem computador. Para partilhar recursos, é comum trabalharem por turnos mais de 100 pessoas numa casa particular, distribuídas por todas as divisões, do sótão à garagem.

Grandes empresas como a Google, a Microsoft, a Amazon ou a Meta (dona do Facebook e do Instagram) apenas encorajam e compensam os investidores, não reconhecendo o valor real do trabalho fornecido pelos milhões de microtrabalhadores digitais em que a IA assenta. A estes pagam-lhes cada vez menos, optando por sítios onde o custo do trabalho seja mais baixo, como países em que 80% das pessoas vive abaixo do limiar da pobreza.

O sociólogo e economista Antonio Casilli, que se dedica a investigar o importância da IA no trabalho digital, sobretudo no chamado Sul Global, considera que, até agora, temo-nos centrado na forma como a IA é utilizada. Tal como acontece com os carros eléctricos, ninguém parece interessar-se pela fase que precede a utilização. Mas é urgente que nos interroguemos a que ponto as empresas que produzem IA exploram trabalhadores, destroem recursos ambientais e desorganizam sistemas jurídicos ou políticos. É premente definir regras que possam ser aplicadas tanto no Norte como no Sul Global. Por exemplo, decidir se uma empresa francesa que recruta microtrabalhadores em Madagáscar vai pagar o salário mínimo francês ou malgaxe; ou estabelecer, num litígio entre a plataforma e a empresa, qual o tribunal que irá julgar; ou de que país será a lei a aplicar numa greve destes trabalhadores. Garantir que os direitos humanos, a segurança e a protecção são respeitados ao longo de toda a cadeia de produção de IA, é o primeiro passo para que a inteligência artificial não seja mais um motor de desigualdade.

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