Entre os anos de 1810 e 1900, com o apogeu – em quantidade e diversidade de instrumentos – da Orquestra Sinfónica, vigora o período que ficou conhecido como Romântico. Ocorre o rompimento com o Classicismo ditado pelo pensamento dos compositores na liberdade da forma, com uma maior manifestação das sensações emocionais, outorgando um realce ímpar à harmonia. Destacando-se, também, dessa fase, a inquietação com a necessidade em solidificar o que enaltecesse os mitos históricos de cada país, salientando-se composições quase sempre inspiradas em folclore nacional.
O planeta passa a ouvir o eco das produções de diversas deidades, entre elas: Bedrich Smetana (1824-1884), Gustav Mahler (1860-1911), Richard Strauss (1864-1949), Félix Mendelssohn (1809-1847), Carl von Weber (1786-1826), Franz Schubert (1797-1828), Franz Liszt (1811-1886), Frédéric Chopin (1810-1849), Robert Schumann (1810-1856), Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893), Johannes Brahms (1833-1897), Gioacchino Rossini (1792-1868), Louis-Hector Berlioz (1803-1869), Richard Wagner (1813-1883), Henrique Oswald (1852-1931), Leopoldo Miguez (1850-1902), Alberto Nepomuceno (1864-1920), Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913), Alexandre Levy (1864-1892) e António Carlos Gomes (1836-1896).
Essa nova corrente musical criou uma exuberância de novos paradigmas de exteriorização harmónica, sendo o classicista Beethoven o seu grande estopim, graças às suas excelsas inovações, especialmente no campo sinfónico. Os compositores românticos cristalizaram essas novidades beethovenianas e as consolidaram com os tais traços locais, como foi o caso de Carlos Gomes em “Il Guarany”. Uma ópera intensa, que descreve uma história de amor e a chacina dos índios Aymorés. O enredo é inspirado no romance homónimo, de autoria de José de Alencar (1829-1877), e a gesta é contada a partir do ano de 1560, tendo o litoral do Rio de Janeiro como cenário. É de assinalar que essa ópera estreou no Teatro alla Scala, de Milão, Itália, a 19 de março de 1870 com retumbante sucesso. Representada e gravada por seguidos decénios, tendo intérpretes da mais alta linhagem como: Julián Gayarre (1844-1890), Francesco Tamagno (1850-1905), Víctor Maurel (1848-1923), Adelaide Borghi-Mamo (1829-1901), Lina Pagliughi (1907-1980), Enrico Caruso (1873-1921), Plácido Domingo (1941-), etc.
Em Portugal, o Conservatório de Música de Lisboa (fundado graças ao empenho do compositor João Domingos Bomtempo, 1775-1842, através do decreto de 5 de maio de 1835, anexo à Casa Pia) veio substituir a forte influência da formação musical por parte da Igreja. A Era Romântica surge, então, com alguma importância no cenário nacional, tendo como precursores, entre outros, os compositores: Augusto Machado (1845-1924), José Viana da Mota (1868-1948) e Joaquim Tomás del Negro (1850-1933). A nota menos abonatória rege-se pelo facto de os autores portugueses desse período estarem vinculados a estesias harmónicas semelhantes às da maioria dos compositores supracitados, sendo, portanto, pouco originais. Porém, é de Viana da Mota, na extensão da “música de concerto”, a primazia da inserção de registos nacionais (ouça-se a sinfonia “À Pátria”) do folclore português nas suas criações, vigorando, assim, toda a estrutura estética da sua lavra.
Da extensa lista de compositores portugueses do período Romântico não há um nome de relevo originário do distrito de Leiria, o que não quer dizer que não tenham existido.
Seria fundamental para a Cultura que as Câmaras Municipais, principalmente as do citado distrito, investissem na criação de uma musicoteca, com foco na investigação, aquisição, armazenamento e divulgação das partituras, discos (particularmente os produzidos antes do advento do CD) e bibliografia, ainda existentes em arquivos particulares (sob risco de perda), na posse de colecionadores e de inúmeros alfarrabistas (em Portugal e no Brasil).
Orando em companhia de Aldous Huxley (1894-1963): “Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”.
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