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A moda da adoção de outras culturas

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Vivendo numa sociedade em que a maior parte da população é caucasiana, é de esperar que as pessoas não pensem muito, ou nunca tenham pensado, no é a apropriação cultural, ou sequer no que ela significa.

Vivendo numa sociedade em que a maior parte da população é caucasiana, é de esperar que as pessoas não pensem muito, ou nunca tenham pensado, no é a apropriação cultural, ou sequer no que ela significa.

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Todos sabemos, ou deveríamos saber, que Portugal foi um país colonizador, e que, apesar de isso ter sido há uma “batelada” de anos, há comportamentos que provêm do racismo e que estão entranhados na nossa cultura social, seja para que raça for.

Com o colonialismo, veio também o sentido de comunidade com as pessoas das colónias, que nasceram nos seus países, mas que outrora foram portugueses. Por isso, daí nasce um enorme problema: um sentido de direito à cultura dos outros. Não querendo dizer que ninguém pode apreciar uma cultura diferente da sua, há imenso abuso e aproveitamento de outras culturas, principalmente de grupos marginalizados.

O que é a apropriação cultural, então? Por definição, é a adoção e/ou uso de um ou vários elementos de um grupo étnico ou religioso, normalmente minoritários ou marginalizados, por alguém que dele não faz parte.

Como exemplo, temos a situação tão polémica das tranças africanas. Antes de se aborrecer, vamos estabelecer algumas noções acerca da prática do entrançamento. As tranças africanas não são iguais às ditas tranças francesas, porque foram adaptadas à textura de cabelo encaracolado ou afro, sendo hoje em dia utilizadas e feitas de várias formas como estilo protetor do cabelo. É também conhecido que em África, os padrões que se fazem nas tranças podem indicar tanto o estatuto social, a tribo, e até de onde vêm os indivíduos que as possuem. Outra contextualização histórica, que pode não ser tão conhecida, é a sua utilização para guardar a pouca comida que as pessoas negras podiam encontrar, ou para fazer mapas de fuga, na época da escravatura. Sendo assim, podemos concluir que as tranças têm um peso cultural imenso, fazendo parte de práticas importantes, tendo tido um papel fundamental durante a escravatura.

Em contextos mais atuais, também é conhecido que ser portador de aspetos culturais ou religiosos (tranças, rastas, burcas, tatuagens, modificações corporais visíveis) é causa de discriminação tanto na rua, no local de trabalho e socialmente.

Ao adotar um aspeto de outra cultura de uma minoria, não pensamos como podemos estar a desrespeitar o outro, e como, coincidentemente, nunca se adotam as partes negativas. Pense como se sentiria se alguém que não fosse português usasse um fato tradicional de folclore e o usasse para algo que não fosse o seu destino, por não perceber o seu significado?

Existe uma linha que separa a apropriação cultural da apreciação cultural: o conhecimento e o respeito. Se todos nos informássemos um pouco mais, poderíamos chegar ao entendimento coletivo de que certas coisas são importantes demais para serem praticadas por todos.

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