“Pais esquecem-se do seu papel de educadores dos filhos” É professor do ensino secundário nas Caldas da Rainha. Começou a carreira em 1977. Vê o ensino muito mais do que uma profissão. Para ele é uma missão. Hoje, com 54 anos, só lamenta que os pais estejam de costas voltadas para a Escola. Tornou-se professor influenciado pela mãe, que “teve sempre uma paixão pelo ensino”. O curso que tirou não era para dar aulas. “Sou da área da Engenharia Química, só que na altura em que me formei, tal como hoje, não abundavam os empregos, mas ao contrário dos tempos actuais havia muita falta de professores, porque com a democracia começava a massificação do ensino e era uma alternativa para quase todos os jovens que saíam das universidades”, relata Edgar Ximenes. O que o fez prosseguir foi a experiência que teve em Moçambique, onde foi professor entre 1980 e 1982. “Marcou-me profundamente. Aí vi realmente o que a Educação pode fazer e cheguei à conclusão de que educar e formar depende muito menos dos recursos do que do empenhamento e do interesse dos agentes envolvidos”, sublinha. “As novas tecnologias são muito importantes mas pode ser tão bom professor o que usa apenas o giz e um quadro vulgar como aquele que usa um vídeo-projector ou um quadro interactivo”, sustenta. Docente há 22 anos na Escola Secundária Raul Proença considera que “há uma predisposição para ensinar que não se aprende propriamente quando se tira o curso, embora a formação seja fundamental. A experiência também não é uma garantia. Não são os professores mais velhos necessariamente os melhores. É preciso ter vocação”. Edgar Ximenes lamenta que os encarregados de educação não acompanhem o que os filhos fazem na escola. “Existe a ideia de que hoje se ensina mal e que se é menos exigente. Não estou nada de acordo com isso. O que existe é uma tendência para culpabilizar a escola do insucesso, que é muito devido a uma menor importância que os pais dão aos jovens. Formou-se a ideia de que a escola é que tem de educar os jovens em todos os aspectos e como os pais fazem muita falta nesse papel acham que os filhos não estão a ser bem educados, mas esquecem-se que muitos deles demitiram-se dessa função e viraram as costas à escola”, manifesta. “É claro que a escola também deve formar cidadãos, mas os pais esquecem-se do seu papel e acham que a escola deve educar os jovens em todos os aspectos”, sublinha. Um dos aspectos positivos que ressalta na escola é a Área-Projecto, disciplina que “permite aos alunos desenvolver as chamadas competências transversais, cada vez mais importantes para a vida”. “Resolver problemas, fazer apresentações públicas, contactar instituições, isto não se aprende em Matemática, Física ou Português”, faz notar. Como aspecto negativo destaca a mobilização para a luta pelos interesses dos docentes. “Tem havido uma luta nem sempre bem orientada pelas associações sindicais. Os professores têm de ter um aliado natural, que são os encarregados de educação e até agora quem tem dirigido a luta não conseguiu fazer ver-lhes as razões dos professores”, comenta. Francisco Gomes