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Culpa e vergonha

Francisco Martins da Silva

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A Lei de 21 de Maio de 2001, conhecida por lei Taubira, por se dever a Christiane Taubira, ministra da Justiça francesa entre 2012 e 2016, determina no artigo I que «A República Francesa reconhece que o tráfico negreiro transatlântico, bem como o tráfico no Oceano Índico, por um lado, e a escravatura, por outro, perpetrados a partir do século XV, nas Américas e nas Caraíbas, no Oceano Índico e na Europa contra as populações africanas, ameríndias e indianas constituem um crime contra a Humanidade». Hoje, em França, quem negar publicamente este triste passado vê-se a braços com um processo-crime.
Francisco Martins da Silva

A sociedade portuguesa está muito longe deste nível de reconhecimento histórico. Há entre nós uma crónica falta de leitura e verdadeira informação. Apesar de Portugal ter sido o primeiro e o último dos negreiros da Europa, os portugueses não sentem culpa nem vergonha desse passado, porque o desconhecem. E sem culpa nem vergonha, não há reconhecimento e reparação. Estamos muito longe de ter uma Lei Taubira.

O discurso “moderado”, eurocêntrico, complacente, muitas vezes iletrado, proferido do confortável centro para as margens, sem se preocupar em conhecer o Outro e vê-lo como igual, dos comentadores brancos portugueses, não adianta nada à análise do racismo na nossa sociedade. O ponto de partida deve ser a razão e a experiência dos não-brancos. Os brancos portugueses, que nunca se viram prejudicados por serem brancos, tendem a negar o racismo que, talvez por vezes inconscientemente, exercem sobre os seus concidadãos de outras etnias. O nosso tardio debate sobre racismo tem sido desinformado, rasteiro, por ser “moderado” pelos tais brancos conscientes de que o seu relativismo preguiçoso não resiste ao confronto com a opinião experienciada das vítimas.

Além dos incontornáveis Frantz Fanon, Cheik Anta Diop, Achille Mbembe, François-Xavier Fauvelle, Toni Morrison, Ivan Van Sertima, James Baldwin ou Michel Foucault, entre outros, muitos outros, é fundamental conhecer as posições do movimento afrocentrista. Afrocentrismo é reposicionar África no centro da História do mundo. Diop, ao esboçar uma história afrocêntrica do mundo, defende que todas as civilizações são africanas nos seus inícios. A tocha da civilização passou do Antigo Egipto — considerado negro — ao império medieval do Gana, e depois aos do Mali e Songai, e todas as grandes civilizações (asiáticas, ameríndias) têm origem na migração de africanos do Egipto ou de outra parte de África. Na óptica afrocentrista, a civilização ocidental provém na sua totalidade, por intermédio da Grécia, da civilização egípcia entendida como essencialmente negra e africana. Os afrocentristas vêem nas pirâmides do Egipto e da América do Sul a evidência de que os africanos conquistaram a América muito antes dos europeus. A colonização da América pré-colombiana por africanos é uma ideia defendida por Sertima desde 1976.

Não querer conhecer o Outro e saber das suas razões é desrespeitá-lo. Negar o racismo estrutural, institucional e quotidiano da nossa sociedade é potenciar racismo de sinal contrário e confronto violento. Não discutir informada e honestamente estes temas é deixar que se torne preponderante o desejo de vingança.

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