JORNAL DAS CALDAS – A OT conseguiu tornar-se uma estrutura sólida que presta serviço em prol do bem-estar dos outros?
José Viegas: A OT, hoje, fruto de muita aprendizagem, foi bebendo informações e colhendo as melhores práticas. Não esquecemos que quando começámos fomos aprender com a Cruz Vermelha como se preenchiam os cabazes.
Hoje estamos sólidos, com métodos próprios, muito capazes de enfrentar o amanhã sem qualquer problema.
Nesta pandemia não paramos nem claudicamos e reinventamos formas de fazer a distribuição de alimentos, como a oferta do material escolar, como o Desembrulhar Sorrisos, como tudo um pouco. E nove anos oficiais, mas dez no ativo dão-nos já uma tarimba sólida. Mas tudo isto porque temos um grupo de voluntários muito amigo, como família, abnegado, de coração enorme e sobretudo com alma de dar aos outros, o que não é fácil encontrar, pois o voluntariado não é tarefa fácil.
J.C. – É o segundo ano que não podem festejar condignamente junto dos voluntários, parceiros, amigos e tantos
anónimos que diariamente os incentivam e acarinham. Como é que estão a assinalar o aniversário?
J.V.: Efetivamente temos de nos limitar ao possível, que é apenas relembrar que festejamos mais um aniversário. Nunca deixando de agradecer a quem nos ajudou e ajuda a chegar aqui. E são muitos anónimos, amigos, empresas, instituições, as juntas de freguesia e o Município de Caldas da Rainha.
Felizmente pela seriedade demonstrada no trabalho e nas realizações temos em cada um destes elementos um amigo, um parceiro sempre disponível, porque sabem que granjeamos credibilidade na comunidade.
J.C. – No atual contexto da pandemia podemos dizer que a OT esteve na linha da frente no combate à Covid-19 na
prestação de apoio a quem precisa. Houve mais pedidos de ajuda? Foi visível a crise provocada pela pandemia?
J.V.: Demos um passo em frente quando seria fácil escudarmo-nos nas dificuldades. Mas as famílias precisam de muito apoio, temos muitas crianças e idosos. Os pedidos têm crescido imenso.
Analisamos cada caso através de documentos, de entrevista, de partilha de informação com outras entidades. A maior parte fica, pois deteta-se logo a carência. Contudo, nunca nenhuma família que veio a uma entrevista deixou de levar um bom cabaz alimentar.
Listas de espera não temos, nem queremos. Se entendermos não apoiar por qualquer critério subjacente (e existem muitas inverdades que detetamos) dizemos diretamente e a pessoa segue outro trajeto, outro apoio. Quem pede ajuda por não ter de comer não pode ficar numa lista de espera. Quem precisa, não pode ficar numa lista a aguardar.
J.C.- Mesmo com as dificuldades inerentes ao momento que estamos a passar, não deixaram de prestar apoio a quem precisa. O que têm feito para ajudar as famílias e as novas que pediram ajuda? A comunidade pode continuar a entregar alimentos na Expoeste?
J.V.: Temos tido muitas ajudas. Das comunidades estrangeiras, e cito a OIP e a SCV, muitos anónimos que nos procuram com alimentos e donativos, grupos de estrangeiros que se constituem como brigadas de apoio, outros de portugueses que vão surgindo, as empresas que nos continuam a apoiar e o Banco Alimentar, um parceiro de primeira hora que mesmo com dificuldade nunca nega ajuda. E depois fazemos nós as campanhas de recolha de alimentos de tempos a tempos. É o tal reinventar.
O que sabemos também é que muita gente se tem dedicado a ajudar de forma anónima e outros por iniciativa própria, não apenas a OT mas outros grupos e é de louvar esse espírito.
Em qualquer carência também nós vamos adquirir alimentos em falta, sobretudo cereais, iogurtes, leite, entre outros.
J.C. – A OT criou uma linha de apoio SOS, direcionada à população que está a sofrer com a crise causada pela pandemia. Começou a funcionar a 1 de fevereiro. Qual o balanço que faz desta iniciativa? Quais, as dificuldades mais sentidas, ou seja, que tipo de ajuda foi mais solicitada com esta linha?
J.V.: A Linha SOS sabíamos que não teria um enorme impacto. Já existia quem o fizesse, mas quisemos acrescentar. Na realidade já conseguimos distribuir uma secretária, um eletrodoméstico, material escolar, mas na sua maioria são para ajuda alimentar de novas famílias. Contudo, num desses apelos conseguimos estar a conversar com o interlocutor mais de 45 minutos, o que demonstra a necessidade de desabafar, de conversar. Se podermos ajudar uma pessoa é menos essa que necessita.
J.C. – Hoje estão mais próximos das outras associações e da rede social. É uma medida importante para poder chegar a mais pessoas?
J.V.: Sempre achámos que divididos ou a olhar pelo canto do olho se o outro faz melhor ou pior não é solução. Todos são necessários e importantes. Todos contribuem para o mesmo. Bom seria que estas associações não existissem pois seria sinal de que ninguém precisava.
E nada melhor que a área social da Câmara Municipal, a constituição da rede social que nos faculta informações, que reúne connosco e onde através disso estabelecemos parcerias e apoios, e diálogos uns com os outros.
Felizmente temos excelentes relações com toda a gente. Reunimos com a Cruz Vermelha e com a Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha, bem como com outras entidades, com quem trocamos informações, partilhamos experiências e estudamos agregados. Como exemplo, no Natal oferecemos brinquedos à Refood e esta tem-nos frequentemente oferecido pão. Isto é a verdadeira riqueza do trabalho em rede.
A OT e penso que os outros também, não queremos ser campeões de nada, apenas servir quem precisa, minimizar estes impactos na vida das pessoas.
J.C. – A OT continua o seu caminho, entregando cabazes alimentares às famílias por si apoiadas. Estão atentos a situações pontuais que vão surgindo e preparados para outras intervenções?
J.V.: Estamos sempre disponíveis para tudo. Para continuar este combate, para ajudar outros, para sermos úteis à comunidade, para fazermos pontes, para tudo aquilo que a comunidade entenda que ou onde podemos ser úteis. Esse é o nosso lema. Ajudar quem precisa.
J.C. – Em 2022 a OT comemora o décimo aniversário. Quais os grandes projetos para o futuro?
J.V.: Se a pandemia permitir, gostaríamos de fazer um jantar comemorativo, homenageando os nossos voluntários e parceiros, amigos e, no fundo, toda a comunidade.
Temos projetos na manga prontos a sair desde que possível. Aproveitando o espaço que temos, criar outros apoios. Quem sabe, e estamos a estudar isso, sermos uma IPSS.
Temos um conselho superior que ainda não tomou posse dado o momento, que nos vai ajudar a repensar e a analisar.
J.C. – Quantos voluntários tem a OT neste momento?
J.V.: A OT tem atualmente 23 voluntários. Nesta pandemia alguns por indisponibilidade de horário, outros pela idade e outros por questões profissionais não podem dar o seu contributo, mas estão sempre a par de tudo o que se faz e disponíveis para qualquer ação imediata ou por informação ou conhecimento.
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