Isabel Pereira Rosa, autora e ex-docente natural da Tojeira (Vilar), regressou à Biblioteca Municipal do Cadaval, no passado dia 3, para apresentar a sua décima obra literária, “Um Sinuoso Modo de Correr”. A sessão também contou com a participação musical do pianista Gerardo Rodrigues, também com origens no concelho.
Ricardo Coelho, Chefe do Gabinete de Apoio à Presidência da Câmara Municipal do Cadaval, encarregou-se da abertura da apresentação. Antes de fazer um breve resumo biográfico da autora, salientou que, para o Município é “sempre importante receber autores neste espaço e uma enorme satisfação quando esses autores são ‘filhos da terra’, como é o caso da professora Isabel Pereira Rosa”.
Tânia Camilo, técnica superior da Biblioteca Municipal, a pedido da autora, leu aos cerca de trinta leitores e amigos presentes na sessão, um artigo publicado na Revista Caliban por Maria João Cantinho, poetisa, ensaísta, escritora, crítica literária e amiga pessoal de Isabel Pereira Rosa.
Segundo Maria João Cantinho “para esta obra, que retrata uma sociedade pós-catástrofe, Isabel Pereira Rosa investigou bastante sobre as alterações climáticas, assim como revela um olhar atento aos problemas vários da sociedade contemporânea. E é numa atmosfera de estranha envolvência, entre o onirismo e a ficção, que poderemos aqui chamar de ficção científica, que se desenvolve toda a história de “Um Sinuoso Modo de Correr”, título retirado de um verso de um poema de Fiama Hasse Pais Brandão, mais precisamente do livro ‘O Nome Lírico’”.
A crítica literária explicou que esta “obra é constituída por um prólogo, duas partes, sendo a primeira a narração dos vários factos, a segunda intitulada “Se”, introduzindo uma hipótese, e um epílogo final”.
Como aspetos mais relevantes, destacou “a importância do sonho, que se confunde com a realidade, funcionando ora como pesadelo, ora como revelação do caminho e da decisão a seguir”.
A autora do livro explicou que neste livro pretendeu “falar das minhas grandes preocupações, que são certamente a de muitos de vós. Abordei temas como as alterações climáticas, as grandes assimetrias sociais, corporizadas no fosso que se abre na povoação (logo no início), a violência doméstica e o abuso infantil nesse contexto, a discriminação de minorias, o aumento crescente dos novos fascismos e nazismos, os abusos e os jogos de poder, as migrações, que tenderão inevitavelmente a aumentar com as secas e o aumento do nível das águas nas zonas costeiras, e claro, os temas universais e intemporais que são o amor e a morte”.
“Como já é habitual nos meus livros, algumas partes são inspiradas em realidades que vivi ou presenciei mas, como alguém disse, a realidade e a ficção podem estar muito próximas, podem mesmo tocar-se, mas são sempre distintas”, referiu Isabel Pereira Rosa.
Antes de dedicar esta obra à sua família mais próxima, a autora confessou que, “ao rever a segunda parte, em que se fala do que poderia ter acontecido se as pessoas tivessem agido de maneira diferente, questionei-me se isso poderia ser interpretado como paternalismo, como se a autora quisesse convencer os leitores da forma como deveriam viver ou ver o mundo. A intenção não foi essa, mas antes criar no livro o debate que me parece faltar na sociedade, sobretudo no que respeita às alterações climáticas, não para convencer ninguém mas para favorecer a reflexão”.
“Um Sinuoso Modo de Correr”, com a chancela da Astrolábio Edições, sucede às nove obras já publicadas por Isabel Pereira Rosa. A primeira, “Folhas Soltas”, foi apresentada na antiga Biblioteca do Cadaval, em 1998. Seguiram-se os livros infantis “O Tesouro da Serra de Montejunto” e “Sozinho(s) em Casa”, de 2000 e 2003, respetivamente. “Memórias de uma Professora” foi apresentado no dia da inauguração da atual biblioteca, a 19 de setembro de 2009. O romance “A substância do Tempo” foi apresentado em 2011, “Diário da minha Loucura” em 2014, “Uma Pedra contra o Peito” em 2015, “Parkinson, meu amor”, em 2019, e “Foz – Uma história da pandemia”, de 2021.
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