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Histórias do Termalismo

2. As Origens das Caldas (da Rainha)

Jorge Mangorrinha

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O grande hospital não foi feito nas águas de Óbidos, mas mais a norte, junto aos cotos do domínio cisterciense. Contudo, há quem renegue a hipótese da assistência ao serviço da política, a partir do momento em que o assunto foi tratado pelo marido de D. Leonor, o rei D. João II, forçando o Abade e Cardeal D. Jorge da Costa a emigrar para Roma (1483), o que aliás lhe permitiu ser eleito Papa, mas que renegou (1503). Lembro que, no último quartel do séc. XV e em Itália, começavam a irradiar as ideias renascentistas e Alcobaça absorveu-as e, depois, as Caldas também. Em relação à localização, a Rainha pediu ao seu médico pessoal (António de Lucena) um estudo comparado das águas, com doentes a frequentar os três núcleos de nascentes (Casal dos Mosqueiros, Quinta de Vale de Flores e Caldas).
Jorge Mangorrinha

O mais profícuo cronista do Hospital Real, Jorge de São Paulo, transcreveu documentos referentes à fundação, que referem sempre a “reconstrução” e a “restauração” dos edifícios a partir de casas arruinadas e não à criação a partir do nada.

A hipótese conjugada de uma visão política, alicerçada na inteligência e na argúcia da Rainha, como traço do seu perfil biográfico (formação, personalidade, intervenção politica e cultural do seu tempo), e um maior caudal das nascentes das Caldas versus as duas nascentes mais próximas da Casa da Rainha (instituição à parte da Corte do Rei), em Óbidos, não põem ainda de parte a hipótese para aqui convocada como início deste texto.

O Hospital das Caldas foi pioneiro numa hospitalização moderna e o primeiro a servir os pacientes, relativamente ao de Todos-os-Santos, em Lisboa, ambos construídos sob o modelo de Santa Maria Nova de Florença, que implicava especialização e organização médica próprias, em que o corpo médico era quem consultava e decidia o internamento dos doentes. E, cumulativamente, o das Caldas recorreu às águas terapêuticas e antecipou-se à criação formal das Misericórdias, sendo o primeiro ato mecenático e misericordioso da Rainha.

A rainha D. Leonor, detentora do senhorio das terras de Óbidos desde 1482, procedeu à instituição daquele que seria o primeiro Hospital Termal do mundo, numa região pouco povoada – e, na minha opinião, com estrutura religiosa por perto, ruínas de estruturas rudimentares e antigas, casais (Avenal e Moinho do Cubo) de tipo rural e já pelo menos dois caminhos públicos – as futuras Rua Direita (atual Rua da Liberdade), a caminho de um velho rossio com a Ermida de São Sebastião de apoio às gentes dos arredores, e a futura Rua da Oliveira (atual Rua de Camões), que bordejava o Moinho do Cubo e seguia a ribeira das águas quentes –, daí ter surgido uma Rua Nova a caminho do Avenal e junto à Ermida do Espírito Santo e depois da Fundação do Hospital. Nova, por existirem outras. Passaria a albergar os novos habitantes. Lembro que D. João II, em carta régia (1488), concedeu privilégios e liberdades a famílias para virem morar para as Caldas, para a Rua Nova, e constituíssem uma população profissionalmente heterogénea, essencialmente ligada à construção, gestão e manutenção do Hospital e que assegurasse a continuidade da vila. Esse parece ser o ano de origem do lugar, sendo que sobre o título de vila já se defenderam os anos de 1500 (Jorge de São Paulo), ano de conclusão da Igreja, e de 1511 (D. Manuel I reconhece oficialmente essa categoria, mas por determinação e demarcação do termo da vila até meia légua em redor dela).

Note-se que o facto de que esta zona ser carente em águas potáveis para consumo terá dificultado a fixação de população, anteriormente, para o que foi feita a construção de encanamentos que conduziam as águas de uma nascente a larga distância, no Vale da Delgada, tanto para o Hospital como para uso público, já que a Rainha mandou construir um chafariz no largo. Havia infraestruturas moageiras (farinha) e de pisoaria (lanifícios ou linhos), junto ao Moinho do Cubo e da Ribeira das Águas Quentes.

Dotado de um conjunto de princípios regulamentares definidores de um modelo organizacional ímpar, este estabelecimento consolidou, no “Livro do Compromisso” (1512) assinado pela própria D. Leonor, ou seja, um modelo de gestão do Hospital, com interesse para a população residente, que viria a ser seguido até à sua reformulação no reinado de D. José I, por ação direta do Marques de Pombal. Nos seus primeiros tempos, a vila era marcada pelos edifícios do Hospital e da Igreja, embora localizados numa depressão, pelos arruamentos anteriores à Rua Nova e por esta mesma formada por talhões irregulares. Atrás do Hospital e da Igreja, situava-se a ermida primitiva, os paços da Rainha e algumas dependências do Hospital (cavalariças, fornos, horta e jardim). Nas primeiras décadas, o Hospital nunca terá recebido mais do que 200 pacientes por ano.

Há precisamente 500 anos, à entrada dos anos 20 de Quinhentos, a época iniciava-se a 3 de maio e fechava a 21 de setembro. Entre os utentes, havia não só os pobres como também religiosos e algumas famílias abastadas, que neste caso podiam pagar os tratamentos, ficando por vezes hospedados em casas particulares ou próprias. A maioria de todos os utentes ficava nas enfermarias do Hospital, contudo, os seus acompanhantes teriam que procurar alojamentos particulares. A vila prosperava por esta procura de viajantes, numa fase que podemos caracterizar, sem hesitação, de prototurística.

Há quem diga que precisamos de uma nova Rainha D. Leonor. Não creio tanto, mas nesta República, em que por vezes a Democracia tem défices, importa convocar os mais habilitados para uma ideia integrada de termalismo ambicioso. E eu diria mais, sedutora, como parece ter sido D. Leonor.

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