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Todos, todas, todes

Francisco Martins da Silva

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Valerá a pena discutir o género na linguagem se o objectivo for encontrar formas neutras de dizer.
Francisco Martins da Silva

Quando se diz “bom dia a todos”, “a todos” está a mais, é inútil, é mau português. É até equívoco, porque sugere que se poderia não desejar bom dia a alguns e se está a fazer uma concessão a esses. Não faz sentido dizer “bom dia a todos”. Basta dizer apenas “bom dia”. Forma neutra.

Se temos uma sensibilidade, digamos, dada ao ornamento, e achamos que só “bom dia” é seco e necessita de mais qualquer coisa, então podemos dizer “bom dia, colegas”; “bom dia, camaradas”; “bom dia, pessoas”… Formas neutras. Quando se diz “bom dia a todos e a todas”, então o disparate é duplo. Não havendo a forma neutra entre “todos” e “todas”, é “todos” que serve de neutro, incluindo toda a gente nesse contexto, mulheres, homens, altos, baixos, todos. Ao dizer-se “todos e todas” está-se a referir as mulheres duas vezes. É redundante, manifesta desconhecimento da língua (e de falta de sentido estético, já agora). Além disso, abre-se um precedente no discurso que não é viável manter. Nas frases seguintes dir-se-á “o e a”, “os e as”, “dos e das”, “uns e umas”, “pelos e pelas” a cada passo? O discurso será apenas ruído, será ridículo e ininteligível, como muitas vezes acontece.

Na História da Arte, a expressão “o Homem” está por todo o lado, desde a frase de Protágoras, “O Homem é a medida de todas as coisas”. Há muito que, nas minhas aulas, substituo a expressão “o Homem” por “o ser humano”, e mudei a frase de Protágoras para “O ser humano é a medida de todas as coisas”. Encontrar formas neutras de dizer, é esforço que vale a pena. Não há nenhuma necessidade de proferir disparates em português, seja para afirmar a nossa opção ideológica ou por outro motivo. É lamentável que professores o façam, como se não fosse suficientemente calamitoso terem de se reger pelo AO de 1990.

A língua portuguesa é quase sempre feminina na expressão do que é importante. Os grandes conceitos exprimem-se sobretudo no feminino — a vida; a morte; a eternidade; a justiça; a paz; a democracia; a solidariedade; a generosidade; a educação; a cultura; a arte; a beleza; a humanidade; a criança; et cetera. Ora, faz sentido rebelarmo-nos contra isto? Claro que não. Também ao contrário não faz sentido. Mas, repito, será sempre útil e enriquecedor para a nossa língua encontrarmos formas neutras de dizer. Que tal estes neologismos, todes, umes, algumes?

Bom dia só a algumes.

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