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Para além do trauma do encerramento da Secla

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No meu imaginário, como no imaginário de muitos caldenses, da minha geração (em miúdo, na minha Rua dos Artistas, fazíamos rifas de Santo António, que vendíamos por cinco tostões, em que a grande maioria dos prémios eram objectos cerâmicos, do refugo da Secla), esta fábrica, a Secla, talvez tanto ou mesmo mais que a Bordalo […]

No meu imaginário, como no imaginário de muitos caldenses, da minha geração (em miúdo, na minha Rua dos Artistas, fazíamos rifas de Santo António, que vendíamos por cinco tostões, em que a grande maioria dos prémios eram objectos cerâmicos, do refugo da Secla), esta fábrica, a Secla, talvez tanto ou mesmo mais que a Bordalo Pinheiro, era uma marca de sucesso das Caldas, da cidade da nossa já distante juventude. Com o seu encerramento morremos todos um bocadinho, como caldenses. Nas Caldas, como no País o sentimento de impotência, face a esta realidade brutal, de crise económica e social, assusta-nos e deprime-nos. Nas Caldas, como em todo o Portugal, actualmente, vivemos mais, não o sonho de um futuro melhor, mas antes o pesadelo de um futuro negro. Importa, pois, para além dos traumas e dos medos, reflectir e, a partir dessa reflexão, pensar e construir alternativas, que travem este caminho, que nos parece conduzir ao abismo (um regresso ao passado de subdesenvolvimento e de injustiça social). Na minha opinião, penso que os nossos principais problemas radicam num modelo de sociedade esgotado, assente em falsos paradigmas de sucesso e de felicidade. O modelo civilizacional, de hoje, evoluiu no pior sentido, ao ultrapassar valores e princípios humanistas e de decência e impôs-nos, como exemplo de sucesso e de felicidade, um Poder materialista, sem limites, que se alicerça no grande poderio económico-financeiro, que tudo subjuga (cada vez sem menos regulação do Poder político dos Estados) e que é um Poder, político, cada vez mais refém do económico. A este Poder pouco importa o pequeno e médio tecido empresarial, pois, este, de certo modo, nega-lhe a tendência para o monopólio e o “exército” maltrapilho e subserviente da mão-de-obra barata, que procura trabalho a qualquer preço e quase sem direitos. As deslocalizações de unidades fabris, em muitos casos, não são só feitas por essas unidades deixarem de dar lucro, mas porque, por um lado se procuram libertar de encargos com trabalhadores com direitos, procurando, sobretudo, outras paragens (paraísos capitalistas), onde o trabalho é praticamente escravo (ou se se mantêm no País, montam novas unidades fabris, assentes no trabalho precário). A Secla e muitas outras “Seclas” deste País, como empresas de pequena e média dimensão são esmagadas por esta lógica. Ao Poder, refém (lacaio) dos grandes interesses, não importam estas pequenas e médias empresas, que produzem alguma riqueza e dão emprego, em muitos casos, ainda com alguns direitos. É certo que o problema envolve a complexidade de não ser só português. É certo que a globalização neo-liberal está em força por toda a parte impondo a ditadura (pura e dura) do mercado, mas também é certo que a Europa (da União Europeia), que se procura fechar aos trabalhadores famintos do terceiro mundo, não faz nada para se proteger da entrada de produtos, produzidos por mão-de-obra escrava, ao arrepio dos mais elementares direitos humanos. E o Governo (o nosso Governo) em vez de só procurar investimento estrangeiro (dando-lhe condições e favorecimentos que muitas vezes, passados tempos, “são pagos” com a deslocalização, para o estrangeiro) era bom que olhasse para as pequenas e médias empresas e as acarinhasse, em vez de as condenar ao ostracismo. Fernando Rocha

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