Foi inaugurada no passado sábado a exposição “José Saramago, um escritor de inquietações”, no Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha, sob curadoria do caldense António Marques, que está a percorrer todo o território nacional, numa organização do STAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional com o apoio da Fundação Saramago e da Câmara Municipal das Caldas da Rainha.
A mostra itinerante, que se associa ao centenário de nascimento do Prémio Nobel da Literatura, e que já esteve noutros municípios do país, conta com 90 painéis dedicados à vida e obra do escritor. Além de fotografias, os painéis expostos na galeria do CCC retratam estratos das obras e de entrevistas, momentos da vida do escritor, “cuja dimensão social, cívica, política e cultural se condensa em torno de um desígnio maior, a defesa da condição humana na sua plenitude, dos direitos dos trabalhadores e da liberdade dos povos”, explicou o curador da exposição, António Marques.
José Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, no concelho da Golegã, no seio de “uma família muito humilde, qualidade essa que o transportou até ao Prémio Nobel”, destacou o curador, que recordou o percurso do escritor.
De acordo com António Marques, “José Saramago durante algum tempo foi um contemporâneo de uma corrente literária portuguesa, o neorrealismo”, mas só depois da edição da obra “Levantado do Chão”, manuscrita em 1977 e publicada em 1980, “é que nasce o Saramago que hoje conhecemos”. Essa obra esteve em destaque por ter sido aquela em que Saramago adopta o estilo que vem a caraterizar a sua escrita, interligando o discurso direto e o indireto e passando por cima das regras sintáticas. Mas este é também o livro que leva o escritor lisboeta até à vila de Lavre, no concelho de Montemor-o-Novo, para viver durante um período e conhecer de perto a vida dos trabalhadores agrícolas sobre quem escreve.
Para o curador, “José Saramago era um homem de convicções e de causas, mas que também nos transcendia e acrescentava histórias ao mundo”. A par disso “é uma das figuras mais consistentes da cultura e literatura portuguesa”, frisou o caldense, que desafiou o STAL a elaborar a exposição, que estará na Galeria do CCC até ao dia 12 de março.
Presente na inauguração esteve a vereadora da cultura, Conceição Henriques, que sublinhou que “José Saramago é um autor com especial relevância e uma figura incontornável do nosso país”. “Não tanto por ser um grande escritor, que é, mas por ser, sobretudo, um criador de mundos”, explicou a autarca, adiantando que “para quem conhece a obra de José Saramago depara-se com um universo que pode ser reconstituído a partir das personagens e dos mundos do autor”.
Destacou também que “a sua permanência entre nós não foi isenta de controvérsia, tendo sido associada à sua coragem em explorar temas e abrir caminhos, em termos literários”.
“José Saramago é um autor incontornável do século XX”, referiu Conceição Henriques, que aproveitou o momento para desafiar os visitantes a lerem “muito Saramago, porque só se consegue perceber Saramago se se ler toda a sua obra”.
Na mostra também esteve o presidente do STAL, José Correia, que começou por sublinhar que “esta exposição retrata alguns aspetos essenciais e resumidos da obra de José Saramago, que é muito vasta”, contendo assim “partes que o curador considerou fundamentais em relação ao pensamento de José Saramago, deixando ainda um convite à leitura”.
Referiu também que “a mostra não tem finalidade meramente cultural, embora ela assuma aqui uma grande importância, como é óbvio”.
“O nosso objetivo com a exposição é enaltecer a obra de José Saramago, mas também deixar aqui um convite à reflexão por aquilo que Portugal é hoje e por aquilo que deve ser, no que diz respeito ao compromisso social e ao caminho do progresso no país”, explicou o dirigente do STAL.
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