Foi há cerca de um ano e em pleno confinamento, que a mentora do projeto, Teresa Serrenho lançou o desafio às suas filhas, Mariana Bernardino, de 16 anos, e Leonor Bernardino, de 11 anos, e aos amigos, Daniela Martins, de 24 anos, e Pedro Martins, de 20 anos, de levar “alegria através de músicas cantadas, não pelas melhores vozes, mas por bons corações a todos”.
“Numa primeira abordagem, o projeto tinha como missão a minha avó, Ludovina, que estava institucionalizada e que se encontrava sem visita dos familiares há mais de um mês, tendo o nosso objetivo sido conseguido logo no primeiro instante”, recordou Teresa Serrenho, adiantando que a sua avó os reconheceu, sorriu, cantou e pediu mais músicas, tal como os restantes utentes do lar Palácio D’El Rei, em Óbidos. Destacou ainda que “esse foi o mote essencial para começarmos com as Cantigas à Janela”.
Nessa primeira aparição pública, o grupo relembra que teve o cuidado de escolher músicas que fossem em português e que tivessem uma mensagem de esperança e de positividade, adaptando-as assim ao material e ao momento. “Não tínhamos experiência e nunca nos tínhamos sujeitado a fazer estas figuras, mas ao mesmo tempo foi muito intenso, genuíno e divertido”, frisou a mentora do projeto, que depois dessa situação começou a pensar nas pessoas que conhecia e que também estavam sozinhas em casa, e decidiram continuar a estender as cantigas às janelas de muitos.
“Em vez de ser só para a nossa avó e para as pessoas da família começou a ser para todos”, sublinhou Mariana Bernardino, uma das vozes do grupo, que decidiu nesse instante criar uma página nas redes sociais, que atualmente tem mais de mil e trezentos seguidores.
Teresa Serrenho faz notar que “uma coisa tão simples faz uma diferença tão grande”.
Além do lar, o projeto caldense agarrou no seu amplificador a pilhas e percorreu vários sítios emblemáticos da cidade, bem como cantou em baixo de diversas janelas de outras localidades, como SãoGregório, Vidais, Carrasqueira e até São Martinho do Porto. Ao mesmo tempo começaram a chover pedidos de pessoas que queriam ouvi-los para dedicatórias especiais, em que “a prenda eramos nós e a música”, disse Pedro Martins, o guitarrista das “Cantigas à Janela”.
“Passamos do lar para a rua e da varanda de casa para mundo virtual”
A certa altura, como havia a proibição de circulação entre concelhos, o grupo não arranjou uma forma de poder responder a todas as solicitações. “Pensámos, porque não aproveitar o facto de morar na avenida e nas traseiras termos uma espécie de anfiteatro de prédios, e realizarmos os concertos na varanda? Fazíamos a diferença para mais de vinte pessoas”, frisou Mariana Bernardino, recordando que o primeiro concerto a partir da varanda “não correu assim tão bem, pois o som não tinha potência suficiente para abranger todos”. Ao mesmo tempo, as “Cantigas à Janela” começaram a transmitir os concertos em direto através das redes sociais, sendo assim “online para quem não vivesse ao pé DE nós, e à janela para quem estivesse ali”. “No fundo era a janela para todos, pois o telemóvel serve de janela virtual”, apontou a vocalista.
A partir desse momento, o grupo continuou apostar nos concertos em direto todas as sextas-feiras, a partir das 21h30. Durante uma hora Mariana e Pedro usam as suas vozes e uma guitarra para cantar quinze temas, que requerem “arranjos e ensaios antes”.
Atualmente, o projeto encontra-se na segunda temporada, tendo a primeira decorrido entre abril e junho do ano passado. “Este projeto surgiu durante a pandemia e se extinguirá quando percebermos que já não se justifica e pudermos andar mais à vontade”, explicou Teresa Serrenho, adiantando que “as ‘Cantigas à Janela’ têm a capacidade de mudar os dias de muitas pessoas, que sabem que pelo menos à sexta-feira têm alguma companhia”.
Para a mentora, “isto acaba por ser muito mais impactante do que uma simples conversa”, e nesse sentido, o grupo decidiu no passado dia 13 retornar à sua missão inicial de cantar às janelas de lares, desta vez através da parceria entre a associação MVC com o projeto R.I.T.A. – Rede de Intervenção Terapêutica e Apoio à Comunidade, suportado pela gerontóloga caldense Mariana Mendes. “
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