Foram três longos meses penosos para Sérgio Bernardino, da Roulotte Bar “O Camionista”. “Foi muito mau porque todos os mercados onde trabalho fecharam e fiquei com zero rendimento”, contou ao JORNAL DAS CALDAS.
Não teve qualquer apoio durante o tempo que esteve sem trabalhar. “Davam com uma mão e tiravam com a outra, a moratória do banco que pedi foi negada”, salientou, acrescentando que se os mercados não abrissem “tinha que arranjar uma solução como colocar-me à beira da estrada a vender frango assado”.
Sérgio Bernardino, que é de A-dos-Francos, vende frango, entrecosto e coelho assado e tem ainda porco no espeto nesta feira. O segredo do seu “sucesso” é o “tempero e a qualidade da carne que é toda nacional”. O feirante reparou que “os clientes estavam também ansiosos que a feira abrisse”, uma vez que recebeu vários telefonemas a perguntar quando é que voltava.
É o caso dos “amigos da feira”, que há cerca de cinco anos que se juntam todas as segundas-feiras no mercado semanal e tomam o pequeno-almoço num momento de convívio. Eram dez da manhã e comiam entrecosto assado com batata frita, acompanhado por um copo de vinho tinto. “Tinha saudades da feira, porque é aqui que nos encontramos e estivemos quase três meses sem nos vermos”, contou Mário Paulino, porta-voz do grupo de amigos, natural de Alvorninha, mas residente na cidade das Caldas. “Esta crise provocada pela pandemia é difícil para quem vende, mas nós também sentimos devido à falta de convívio porque temos amizade e carinho uns pelos outros”, apontou.
Clara Conde, de Leiria, vendedora há dois anos de roupa de cama (lençóis, cobertores e colchas), manifestou-se satisfeita com a reabertura do Mercado Semanal. “Precisava de escoar o meu produto e já estava sem rendimento há algum tempo”, disse a feirante, revelando que “vende-se muito menos porque as pessoas estão sem dinheiro”.
Adélia Costa, que vende farturas há mais de dois anos, estava feliz por voltar, porque é o seu meio de subsistência. “Este ano não vai haver festas e vai ser mais difícil para o meu negócio”, revelou, considerando que a feira reabriu “com tudo muito bem organizado e com todos os cuidados e tranquilidade”.
Mário Rafael, de 62 anos, residente nas Caldas, vende há cerca de 30 anos neste mercado. Não passou despercebido na feira, com alguma clientela para comprar “as calças de ganga e os fatos de trabalho”.
O comerciante estava com uma mistura de emoções, entre o alívio por voltar ao negócio e a tristeza de voltar sem a presença do seu filho, de 47 anos, que morreu pela “profunda tristeza e medo provocado pela pandemia”.
“Está a ser uma altura muito difícil, isto é uma empresa e apesar de ter colocado os meus filhos em layoff ainda não recebi um tostão”, contou.
Mário Rafael destacou o esforço que a Câmara Municipal das Caldas fez na reabertura desta feira e também do Mercado de Santana, que “estão muito bem organizados”. Quanto ao número de clientes na feira, referiu que “tem que haver um recomeço e economicamente irá crescer progressivamente”.
Câmara quer potenciar a atividade económica
No recinto da feira, que foi totalmente vedado e alargado, controlavam-se os acessos nas quatro entradas, para que não passasse a presença em simultâneo de mil pessoas. Bancas mais espaçadas e a presença em cada uma delas de uma embalagem de álcool gel para os clientes desinfetarem as mãos passou a ser desde segunda-feira, e até um prazo indefinido, a nova realidade desta feira.
As entradas foram vigiadas por agentes da PSP e seguranças, que verificaram se os visitantes levavam máscaras e pediram a todas as pessoas para desinfetar as mãos à entrada, nos dispensadores de álcool gel instalados.
O presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, que esteve no Mercado Semanal ao meio da manhã, fez ao JORNAL DAS CALDAS um balanço positivo “ao esforço e comportamento dos vendedores como dos clientes que cumpriram todas as normas de segurança”.
Tinta Ferreira admitiu ser uma operação complexa porque o recinto é muito grande. Considera que a reabertura correu tão bem como no Mercado de Santana.
O autarca disse que gastaram cerca de dez mil euros na preparação logística, “uma vez que a saúde pública está em primeiro”.
O presidente destacou o esforço da autarquia “em potenciar a atividade económica no concelho”.
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