O máximo de mil visitantes em simultâneo, para além dos feirantes, todos eles de máscara ou viseira, bancas mais espaçadas e a presença em cada uma delas de uma embalagem de álcool gel, para os clientes desinfetarem as mãos, passou a ser desde o passado domingo, e até um prazo indefinido, a nova realidade desta feira.
As entradas foram controladas por militares da GNR e funcionários da Junta de Alvorninha, que verificaram se os visitantes levavam máscaras e pediram a todas as pessoas para desinfetar as mãos à entrada, nos dispensadores de álcool gel instalados.
Dos 400 vendedores, cerca de 300 voltaram à atividade, ocupando 30 mil metros quadrados do recinto. Segundo José Henriques, presidente da Junta de Alvorninha, “passaram neste domingo cerca de cinco mil pessoas”.
Naquele que é considerado o maior mercado ao ar livre do país, foram definidas quatro entradas. Podiam estar no recinto vedado da feira mil clientes em simultâneo, o que fez com que houvesse algumas filas de pessoas à espera, em algumas das quatro entradas. Quando saiam pessoas era autorizada a entrada de outras tantas.
O autarca disse que “para a reabertura tivemos que criar infraestruturas para garantir a segurança e controlar o número de pessoas, o que duplicou a despesa habitual da feira”.
“Foi uma logística complicada”, apontou, revelando que os habituais colaboradores passaram de dez para dezanove “para dar apoio e montar estruturas”. “A GNR também teve que aumentar o número de efetivos para garantir que as pessoas cumpram o plano de contingência do mercado”, adiantou. O autarca agradeceu o “apoio logístico” da Câmara das Caldas.
José Henriques disse ao JORNAL DAS CALDAS que os feirantes estavam “ansiosos para voltar, pois foram quase três meses sem rendimento, nada fácil para muitas destas pessoas com famílias”. Deixou uma palavra de apreço para os vendedores que “souberam acatar a notícia quando tivemos que encerrar o mercado para bem da saúde pública e estão agora a ter uma atitude correta, cumprindo o que está a ser estabelecido”.
O autarca apelou ainda aos clientes “que façam suas compras e quando terminarem saiam do recinto para dar a oportunidade a outros visitantes”.
Feirantes alivados com volta ao mercado
O JORNAL DAS CALDAS falou com alguns feirantes do Mercado de Santana e notou-se uma mistura de emoções, entre o alívio por voltar ao negócio e a amargura pela falta de apoio durante os dois meses e meio em que a feira esteve encerrada.
É o caso de Margarida Bernardino, da empresa “Margarida e Luís Crespo” – produção e comercialização de pintos, patos e galinhas poedeiras, que sublinhou a “extrema necessidade de voltar a esta feira”. “Ficámos perto de três meses de castigo e os supermercados não tiveram nem um dia para parar. E nós com bens de primeira necessidade amontados nos pavilhões, o que não se consegue perceber, porque é um espaço ao ar livre”, salientou a vendedora neste mercado há cerca de 30 anos. Com prejuízo, acabou por percorrer centenas de quilómetros para poder escoar os produtos.
Margarida Bernardino disse que o primeiro dia da reabertura estava “a correr bem”.
Ana Catarina, de Óbidos, vendedora há seis anos de queijos e enchidos, manifestou-se satisfeita com a reabertura. “Não é o meu caso, mas há feirantes com grandes dificuldades até para comprar comida. Por acaso consegui aguentar-me, mas já estava a ficar difícil”, revelou, considerando que “está tudo muito bem organizado, com todos os cuidados e tranquilidade”.
“Acho muito bem que comece a feira, porque nós não temos a ajuda de ninguém. Precisamos da feira para escoar os nossos produtos agrícolas (azeitonas, batatas, fruta entre outros produtos), para pagar as nossas dividas e para podermos comer”, afirmou, ao JORNAL DAS CALDAS, Joaquim Paulo Chumbo um dos vendedores mais antigos do Mercado de Santana.
Já Dulce Nascimento, da cidade de Leiria, vendedora de calçado desportivo, foi a primeira vez que esteve nesta feira. “Estou mais direcionada para as feiras nacionais festivas anuais e como em princípio não vão reabrir este ano tive que aproveitar este mercado para escolar o meu produto”, explicou, a feirante que está parada desde outubro. “Tive que aderir ao arranque das feiras semanais para poder vender”, disse, acrescentando que “nota-se que os clientes estão com algum medo e acho que vieram hoje mais no sentido da curiosidade de ver o que havia e como seria”.
“São quase três meses sem qualquer tipo de rendimento e o apoio da segurança social foram 98 euros e tenho esposa e duas filhas”, contou o feirante, Nuno Santos, de Rio Maior, que vende neste mercado há 15 anos.
Para este vendedor de roupa interior “os trabalhadores independentes foram completamente esquecidos pelo governo”. “As feiras anuais festivas estão no mesmo patamar, fomos esquecidos e postos de parte, somos um grande número que ficámos sem trabalho e sem qualquer apoio”, afirmou, adiantando que “é preferível trabalhar nestas circunstâncias, com segurança extrema, do que não ganhar nada”.
Nuno Santos é da opinião que “as feiras ao ar livre não são menos seguras do que ir a um supermercado”. “O governo passou a imagem ao contrário, que era muito mais seguro irmos a uma loja confinados a um espaço pequeno do que a lugar de ambiente aberto”, adiantou.
Vendedora do frango assado há sete anos neste mercado, Vânia Lopes afirmou que tiveram de se readaptar e “estamos só a vender o frango para fora (serviço take-away).
Rosa Rodrigues, cliente habitual da feira, manifestou-se satisfeita com reabertura, apontando mesmo “vantagens na redução do número de pessoas”.
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