A obra, que está dividida em seis capítulos, conta com os testemunhos de diversos voluntários, que “procuraram retratar a sua experiência e explicar o que cada um aprendeu efetivamente com ela”, explicou Cármen Gonçalves, que também faz parte da direção dos Meninos do Mundo. Segundo a responsável, “esta associação tem como objetivo promover a defesa dos direitos, liberdades e garantias das crianças, em qualquer parte do mundo”, através da implementação de projetos e iniciativas de cariz social, especialmente em países em vias de desenvolvimento. Nesse sentido, “procuramos deixar as sementes nas crianças e nas comunidades envolventes, de modo a que eles continuem quando nós vamos embora”. Foi o caso da proposta de alteração da Lei de Proteção à Infância, em São Tomé e Príncipe, de modo “a que as crianças de alguma maneira tenham oportunidade de fazer queixa e ter continuidade”, e ainda a implementação de projeto piloto na escola em São Tomé e Príncipe para trabalhar as necessidades educativas especiais das crianças. Além destes projetos, a associação pretende este ano criar um centro de acolhimento na Guiné-Bissau. De acordo com Cármen Goncalves, fazer voluntariado é “muito importante mas fazer só por fazer não é solidariedade, é caridade”, nesse sentido, “devemos sempre pensar naquilo que sou efetivamente útil e o que posso fazer pelo outro”.
“O voluntariado é uma experiência única”
Um dos testemunhos é da jovem voluntária, Teresa Fernandes, que atualmente tem 19 anos, mas quando foi pela primeira vez, em missão de voluntariado internacional, tinha apenas 16 anos. “Fiz praticamente toda a minha adolescência fora de Portugal, primeiro em São Tomé e Príncipe, e depois em Guiné Bissau”, referiu a jovem, adiantando que “essas experiências foram tão marcantes para mim”. Na primeira missão, em São Tomé e Príncipe, Teresa Fernandes teve diversas tarefas, entre elas, ajudar a sensibilizar as crianças para os seus direitos e deveres. “Muito surpreendentemente elas não sabiam, nem faziam a ideia que os tinham”, contou a voluntária. Para Teresa Fernandes, “o voluntariado é uma experiência única, em que cada um vive de maneira diferente. No meu caso fez-me perceber que aquela realidade que vivia não era a toda a gente, existindo cenários bem piores, como o facto de crianças terem de andar quilómetros para conseguir água ou acesso à medicação”. Outra experiência em que teve oportunidade de participar foi na Guiné Bissau, onde contactou com raparigas vítimas de casamentos precoces. “Com uma equipa especializada procurávamos trabalhar a autoestima dessas crianças, que tinham pouca autoestima e ultrapassar essa história traumatizante”, explicou a jovem, adiantando que “ser-se voluntário não é só estar no campo. É também saber o poder da diferença e comprometermo-nos com nós mesmos a fazer o nosso próprio papel”. Essa experiência fez Teresa Fernandes “ser uma pessoa diferente e aquilo que sou hoje”. Ao contrário da jovem Teresa, Carlos Xavier, de 22 anos, começou a experiência do voluntariado internacional um pouco mais tarde, com 18 anos. “Fui sem perspetivas e com uma ideia errada”, confessou o jovem, adiantando que o que mais o marcou foi a “falta de carinho e de estrutura familiar que aquelas crianças têm e que nós por vezes não damos valor”. Primeiramente esteve em São Tomé e Príncipe com outros voluntários para ajudar a construir a primeira biblioteca numa escola pública e no verão do ano passado decidiu ir dois meses fazer voluntariado numa associação, que trabalhava com os refugiados, na Grécia. “Ambas as experiências ajudaram-me a perceber que nós somos uns sortudos, por ter família e educação, e ter tudo o que temos direito no nosso dia-a-dia”, sublinhou o jovem, adiantando que “hoje sinto-me uma pessoa diferente, mais crescida e com outros valores”. A iniciativa foi organizada por uma aluna da turma de primeiro ano de Gestão de Turismo da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO), que também faz parte da associação.
0 Comentários