O surfista, de 51 anos, confessou que “não tinha a noção de que estava tão perto das rochas, mas agora pelas imagens é que vejo a alhada em que me encontrava”. Valeu-lhe a ação do seu destemido amigo brasileiro, de 46 anos, profissional de resgates com mota de água.
“Ele é uma das pessoas mais sábias nesta área e conseguiu tirar-me da zona de impacto, arriscando ficarmos ambos numa posição crítica”, elogiou.
A velocidade de outra onda que os perseguia quando Salvador Villas-Boas estava a ser puxado acabou por fazer com que a mota de água ficasse em dificuldade e chegasse a virar, projetando-os para a zona do areal, onde conseguiram sair em segurança.
Ramon Laureano rejeitou ter protagonizado “um ato heróico”, porque “faz parte da minha profissão”, mas a verdade é que foi imprescindível para inverter uma situação que se poderia tornar fatal, como reconheceu: “Quando entrei na água para resgatá-lo, o José Sales, que estava no rádio, avisou-me logo que não dava tempo e para eu sair dali porque era muito arriscado. Eu vi que o Salvador estava na linha das rochas e em segundo tive de pensar se abortava ou não. Arrisquei, porque se ele ficasse lá iria complicar o resgate”.
“Heróis são os bombeiros que dão os seus dias voluntariamente para salvar vidas ou alguém que se atira para o mar para salvar. Este foi um ato bem sucedido da minha profissão do dia a dia”, sustentou Ramon Laureano. “Não tive receio, porque estou habituado. O meu medo era não conseguir resgatá-lo”, admitiu.
“Perdi o equilíbrio numa zona crítica”
O salvamento aconteceu a 6 de fevereiro deste ano e foi todo gravado pelo videógrafo Pedro Miranda, que só em abril partilhou as imagens nas redes sociais. Tony Laureano, de 16 anos, o mais jovem surfista das ondas gigantes da Praia do Norte e filho de Ramon Laureano, terminava a sua performance, tendo a vigiá-lo as motas de água pilotadas pelo pai e por Salvador Villas-Boas, que pediu para ser a vez dele ir surfar.
“Não foi a maior onda da minha vida, mas foi a que me deu a maior tareia. Havia alguma instabilidade, muitas ondinhas que se formaram na própria onda e perdi o equilíbrio numa zona crítica”, relatou Salvador Villas-Boas, que surfa desde 1976 e que experimenta as ondas da Nazaré desde 2007 juntamente com Ramon Laureano, responsável pelo Jet Resgate Portugal, projeto dedicado à formação, treino e desenvolvimento de surfistas de ondas grandes e profissionais operadores de resgate com mota de água.
É extremamente difícil remar para ondas de tamanho tão grande para surfá-las, devido à velocidade destas, daí o transporte motorizado para levar o surfista com a prancha até à ondulação desejada. A esta prática dá-se o nome de tow-in surf (surf rebocado).
Para surfar as ondas grandes da Nazaré a título individual fora de um evento os praticantes devem solicitar autorização à capitania para a prática de tow-in surf e deverão assegurar um dispositivo de segurança e de comunicações adequado, revelou o comandante da capitania, Gomes Agostinho.
0 Comentários