Mário Soares revela lápide desaparecida na Foz do Arelho Mário Soares disse na noite de quinta-feira num jantar/debate que se realizou no Inatel na Foz do Arelho, que a América está a viver uma viragem política extraordinária e acredita que com a eleição de Barack Obama a América vai sair mais cedo da crise económica do que a Europa e criticou os políticos europeus por não terem um rumo. “A Europa está paralisada não sabe o que quer”, referiu Mário Soares, acrescentando que “é um problema muito sério para a Europa, é muito difícil que mude tudo e os políticos europeus fiquem na mesma e não se sintam responsabilizados de coisa nenhuma nem aqueles que organizam as cimeiras dos Açores”. O ex-Presidente da República respondia a uma questão que lhe foi colocada por um elemento da assistência no jantar/debate. Mário Soares foi o orador convidado para falar sobre o tema “A Separação da Igreja e do Estado – da 1ª República à actualidade”, no restaurante do Centro de Férias da Foz do Arelho, do Inatel. Esta iniciativa foi promovida pelo Clube Lusitânia – uma entidade ligada à Maçonaria e realizou-se neste centro de férias onde, durante a 1ª República, o advogado e político republicano Afonso Costa redigiu a Lei da Separação da Igreja e do Estado. Estiveram presentes neste evento mais de 250 pessoas, entre os quais os secretários de Estado José Miguel Medeiros e Conde Rodrigues, vários deputados socialistas, representantes da Igreja Católica e da autarquia local, assim como familiares directos de Mário Soares (a esposa Maria Barroso e o filho João Soares). A Foz do Arelho foi também a estância escolhida, durante vários anos, para Mário Soares e a sua família passarem férias. No início da sua intervenção, o ex-Presidente mostrou-se satisfeito por estar na Foz do Arelho porque sente-se muito ligado quer às Caldas quer à Foz já que ali passou “nada mais nada menos do que 13 ou 14 férias grandes da minha juventude, desde 1939 até 1964”. Na sua intervenção destacou a figura de Afonso Costa, que considerou um republicano extraordinário. “Foi a figura que mais avultou dentro da 1ª República, porque foi um extraordinário jurista e professor catedrático”, referiu, acrescentando que “para além do contributo que deu à Constituição Republicana (1911), devem-se-lhe as iniciativas políticas que conduziram à elaboração de leis como a Lei da Família, a Lei do Registo Civil, a Lei do Divórcio, a Lei da Separação do Estado e das Igrejas (1911), a Lei da Expulsão das Ordens Religiosas, entre outras”. “Afonso Costa foi uma grande figura da 1ª República que veio cá passar uma temporada (à Foz do Arelho) e foi aqui que redigiu a lei de separação entre o Estado e a Igreja”, adiantou. Mário Soares revelou que “existiu aqui uma lápide desse acontecimento que no fim da Guerra de Espanha, princípio da II Guerra Mundial, desapareceu. Sabe-se que existiu e que foi retirada porque não convinha ao Estado Novo ter aqui aquela lápide”, apontou, acrescentando que “a história não se deve apagar, a memória histórica é uma coisa sagrada”. Para o presidente do Inatel, Vítor Ramalho, foi uma enorme honra ter aqui “nesta unidade hoteleira tão emblemática e carregada de história o dr. Mário Soares”. Vítor Ramalho proferiu algumas palavras sobre o Inatel, composto por dezasseis unidades hoteleiras lamentando serem pouco conhecidas pelos portugueses. “Temos cerca de 200 mil associados, a revista que nós editamos mensalmente é lida por cerca de 500 mil pessoas”, revelou. Segundo este responsável, o Inatel apoia as bandas portuguesas, o teatro amador, turismo social e desportos radicais. “Esta casa tem um papel determinante neste período de crise, só no Turismo Sénior somos nós que gerimos 50 mil cidadãos que gozam férias na época baixa”, referiu. O presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Fernando Costa, ofereceu a Mário Soares uma peça de cerâmica das Faianças Bordalo Pinheiro, fazendo questão de frisar o facto desta empresa estar a passar grandes dificuldades. Marlene Sousa