Em A-dos-Francos, sua terra-natal, até houve fogo de artifício antes da junta de freguesia também agradecer o feito do ciclista na Volta a Itália em bicicleta. Mas a primeira homenagem aconteceu no salão nobre dos Paços do Concelho, onde João Almeida foi homenageado pela Câmara das Caldas da Rainha, numa sessão onde estiveram o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, e o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Delmino Pereira.
O secretário de Estado elogiou “o feito extraordinário”, não apenas na classificação obtida, mas “no exemplo” e na “inspiração” que “dia após dia o João Almeida deu ao país”.
Já Delmino Pereira destacou “um sonho cor-de-rosa” protagonizado pelo atleta, que “manteve sempre uma postura de lutar para defender a camisola” e que ao longo da volta fez “os portugueses apaixonarem-se por esta história”.
Recebendo do presidente da Câmara, Tinta Ferreira, uma jarra cerâmica com o brasão da cidade, o atleta, de 22 anos, num momento de grande euforia, mostrou-se comovido. Seguiu depois para a sua terra natal, A-dos-Francos, onde a população o aguardava numa receção organizada pela junta de freguesia.
Ali, em conversa com o JORNAL DAS CALDAS, contou que ficou impressionado quando chegou a A-dos-Francos e viu tudo cor de rosa, todo o apoio e os cartazes a dizer “Vai João”. “Estou estupefacto e estou muito agradecido. Sem dúvida que é uma responsabilidade para obter resultados, mas também me vai dar muita confiança para o futuro”, manifestou.
“Quando vesti a camisola pensei que iria apenas poderia manter a camisola uns dois ou três dias no máximo. Até que os dias foram passando e passei a ser mais respeitado. Foi a minha primeira grande volta e estou muito surpreendido, porque tudo podia acontecer. É indescritível. É muito positivo reconhecerem o meu trabalho e o resultado que tive”, declarou.
João Almeida admitiu que “era muito complicado manter a camisola rosa quando tinha apenas quinze segundos de vantagem e duas semanas nas pernas”. Aproveitou para “agradecer à minha equipa por tudo aquilo que fizeram por mim. Foram todos impecáveis e profissionais”.
Entre as emoções vividas, recordou a altura em que chorou ao ouvir a voz dos seus pais, numa das etapas. “Na altura não vi a pintura que fizeram com o meu nome na estrada, mas vi e ouvi os meus pais e a bandeira de Portugal. Até chorei. Caíram-me as lágrimas com a emoção e estou muito agradecido a eles. Naturalmente que fez diferença na corrida mentalmente ter aquele apoio psicológico e ter algo por que sofrer”, confessou.
“Ia com o objetivo de dar o meu melhor. Para se ganhar uma prova de três semanas não diria que é preciso ser super-homem, mas sim ser muito forte. É fácil deitar a toalha ao chão. O meu objetivo principal era aprender e crescer. Foi mais do que muito positivo”, adiantou.
“Vou continuar a trabalhar arduamente e vamos ver o que o futuro nos traz. Gostaria de participar nas três grandes provas [Grand Tour – Tour de France, Giro d’Italia e Vuelta a España]. Espero um dia fazer as três. O Tour tem mais prestígio mas a que gosto mais é o Giro d’Italia. É uma corrida linda, desde sempre que é a minha preferida”, declarou o ciclista.
O jovem caldense revelou que “no futuro vou focar-me nas grandes voltas. Acho que ainda posso melhorar um pouco no contrarrelógio e especialmente na montanha, onde se fazem as maiores diferenças e se vê a real capacidade”.
Recusando comparações com Joaquim Agostinho, por ainda estar no início da carreira, o atleta disse esperar “dar mais alegrias a todos os portugueses”.
Instado a comentar os sacrifícios a que está obrigado, falou de “novos métodos de treino”. “Antigamente tinha-se uma mentalidade diferente, levava-se as coisas com mais calma. Agora jovens como eu e mais novos já começamos a trabalhar muito profissionalmente desde muito cedo. Por exemplo, eu já estou na seleção nacional desde os meus quinze anos. A internacionalização do nosso ciclismo também ajuda para obter experiência e evoluir a capacidade física e psicológica”, referiu.
Por outro lado, “o bom profissional aceita o sacrifício como parte da vida, para colher frutos. São as regras de alimentação, o descanso, o treino à chuva, ao frio ou ao calor. Acho que sou bastante regular e tenho um bom psicológico, que ganhei ao longo dos anos pelas equipas que passei. A mentalidade é forte”.
Medalha de mérito municipal em 2017
João Almeida nasceu a 5 de agosto de 1998, em A-dos-Francos, nas Caldas da Rainha, e iniciou-se no ciclismo na Escola de Ciclismo Ecosprint, naquela cidade.
Em 2014 foi campeão de Portugal em estrada, do contrarrelógio e de corrida por pontos em cadetes. Em 2016 obteve o título nacional em estrada e contrarrelógio na categoria de juniores.
Em 2017 entrou na Unieuro (Bulgária) e no Dia da Cidade das Caldas da Rainha recebeu a Medalha Municipal de Mérito Desportivo atribuída pela Câmara Municipal. Passou em 2018 para a Axeon (Estados Unidos), sendo 2º no Giro d’Italia na categoria de esperanças e campeão de Portugal do scratch. No ano passado sagrou-se campeão de Portugal em estrada e contrarrelógio em esperanças.
Tornou-se profissional este ano na Deceuninck-Quick Step (Bélgica) e foi 2º no Giro dell’Emilia e 3º na Vuelta a Burgos.
Comandou o Giro d’Italia durante quinze das vinte e uma etapas e alcançou o quarto geral final, melhor posição de sempre de um português nesta prova do Grand Tour.
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