Mas, a cada resposta pontual e certeira, continuei a imaginá-los na sala de aula, sempre o mais ao fundo possível, o habitual atraso deste ou daquele, o falatório prejudicial, o inferno dos telemóveis, a falta de maneiras, a insolência, a resistência passiva. A habitual contrariedade de quem é compelido para a sala de aula e tem interiorizado que a escola é só para estar com os amigos.
Também me assaltou o sentimento de desagravo, de justiça poética, por finalmente serem os encarregados de educação deste país que despreza os professores a terem de aturar os seus ricos filhos. A terem de aguentar a tempo inteiro a indisciplina, insolência e má-criação. A terem de aguentar a tempo inteiro o resultado da educação que lhes têm dado.
Mas foi um sentimento breve, pois, à medida que eles iam correspondendo tão pronta e certeiramente às minhas solicitações, dei por mim a ter saudades deles e a preocupar-me com a sorte de cada um. Que será deles nos próximos tempos, fechados em casa? Fartar-se-ão finalmente dos telemóveis? Chegarão à conclusão de que o importante da vida consiste sobretudo no que agora nos está vedado? Algum adoecerá?
Esta experiência é inteiramente nova. Sairemos dela diferentes. Para o ensino, como para o ambiente, será positiva. Será impossível continuar do mesmo modo, depois disto. Ficará comprovado que inúmeros hábitos e procedimentos deveriam ter mudado há muito.
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