À primeira vista, parece um comportamento inocente e inócua. Um toque de leveza, um gesto de simpatia e boa disposição. Mas, de facto, este tipo de comunicação informal é a face visível de um jogo de influência e manipulação relacional que se insere frequentemente num contexto de bullying profissional cuidadosamente urdido.
Quando um subordinado estabelece contacto frequente com a hierarquia através de mensagens humorísticas, está, na prática, a construir um canal emocional paralelo: uma relação de proximidade que escapa ao controlo institucional. E esse canal, aparentemente banal, condiciona decisões, altera perceções e fragiliza hierarquias. O resultado raramente é neutro.
Num contexto de tensão ou conflito interno, o “trabalhador simpático” passa a gozar de capital afetivo junto da chefia. A sua imagem é filtrada pela boa disposição e pela familiaridade. Já quem mantém uma postura profissional, contida e objetiva — muitas vezes a vítima do comportamento abusivo — começa a ser visto como o “chato”, “o difícil de líder”, o “excessivamente rígido” ou o “sem espírito de equipa”.
O humor converte-se, assim, em arma social. Serve para desarmar, desviar e proteger o agressor. É o escudo perfeito do assédio ascendente, aquele em que o subordinado mina discretamente a autoridade de quem deveria respeitar. O ataque nunca é frontal: é envolto em piadas, trocadilhos, permeado pela expressão “estou só a brincar” e aparente leveza. O que parece “carisma” ou “popularidade/simpatia” é, muitas vezes, uma forma subtil e muito engenhosa de manipulação onde é fácil cair pela simples passividade e aceitação deste tipo de mensagens.
As chefias que toleram – ou pior, incentivam pela sua inércia – este tipo de comportamento não estão apenas comprometer a sua própria autoridade: estão a destruir a coesão da equipa que coordenam ou a premiarem comportamentos pouco profissionais e éticos. Porque ao aceitarem o riso como forma de comunicação hierárquica, deixam de ser líderes e passam a ser cúmplices emocionais numa rede cuidadosamente urdida para obtenção de vantagens futuras. A imparcialidade perde-se, o profissionalismo dissolve-se e instala-se um ambiente onde a lealdade se compra com gargalhadas.
Não há liderança saudável onde o respeito é substituído por cumplicidade. Não há cultura de confiança quando a influência se conquista com piadas. E não há neutralidade possível quando o humor se transforma em instrumento de poder.
As organizações precisam de entender isto com urgência: a comunicação informal tem limites, e o papel da chefia é garanti-los.










