O conjunto de embarcações partiu com o objetivo de levar ajuda humanitária, o que foi visto pelos israelitas como um apoio ao Hamas. Nos últimos dias, o expectável aconteceu: a flotilha chegou a águas controladas pelo exército israelita e a tripulação foi detida. Entre os detidos estão a atriz Sofia Aparício, o ativista Miguel Duarte e a coordenadora do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua.
Muitas foram as críticas a Mariana Mortágua por ter decidido embarcar nesta missão numa altura de eleições autárquicas em Portugal. O partido está reduzido a uma deputada na Assembleia e muitos membros pediram a sua demissão. Mas acho que as críticas são injustas. Isto só mostra o quão hostil está o ambiente no Bloco de Esquerda, a ponto de Mariana Mortágua preferir ir para Gaza.
O Governo português já veio garantir que está a colaborar com as autoridades israelitas para que os portugueses regressem o mais rapidamente possível. O problema é que a flotilha chegou mesmo no dia do feriado Yom Kippur — uma data que os judeus reservam para a expiação dos seus pecados. Não só o processo de regresso da tripulação vai ser mais demorado como vieram atrapalhar a concentração dos israelitas no arrependimento. Quem sabe se no final do dia todos pediam desculpa e ficava tudo resolvido? Agora nunca vamos saber.
O que mais me surpreendeu foi a reação de muitos portugueses que rejubilaram com estas detenções. Porque numa altura em que o número de vítimas mortais em Gaza passou os 65 mil, em que 50 pessoas ainda se encontram reféns do Hamas e em que mais de 2 milhões desesperam por comida, nada causa mais indignação do que um grupo de ativistas alertar para o problema pacificamente.
No mesmo território onde hoje acontece o conflito, nasceu uma mensagem revolucionária para a altura — cuidar do próximo. Mas tantos anos depois, ainda parece difícil de entender. Andamos em busca de razões para mostrar o ódio e talvez a minha opinião também lhe cause algum. Mas garanto que, tal como a flotilha, vim em paz.
Dario Martinho










