A primeira paragem foi na Amoreira, onde foi dado a conhecer o Moinho do Hipólito e as obras da pintora Minela Reis.

Da Amoreira seguiu-se viagem rumo à freguesia de A-dos-Negros, com paragem na Adega de Vítor Mata e degustação de um abafadinho, filhoses caseiras e bolos da Capinha de Óbidos.

O presidente da Junta de Freguesia de A-dos-Negros, Heitor da Conceição, explicou como é feito o “abafadinho cem por cento caseiro, que é parecido com o Vinho do Porto”. 

Em declarações ao JORNAL DAS CALDAS, Vítor Mata, responsável pela “Adega Velha”, disse que foi muito bom terem associado o seu espaço ao festival. “Tenho muita honra que seja divulgado e conhecido porque ilustrei as paredes que representam a forma como se fazia o vinho e abafadinho e qualquer pessoa que falar comigo pode visitar”, salientou. Mostrou ainda um livro com cerca de 60 poemas que “gostava muito que fosse reeditado”.

A primeira “Viagem na Minha Terra” do programa deste ano terminou na freguesia de Gaeiras, com uma visita à secular Casa das Gaeiras e participação em experiência enogastronómica.

Decorreram no sábado e domingo mais duas iniciativas da “Viagem pela minha terra”, de autocarro por Óbidos, durante as quais um guia partilhou com os participantes as “heranças, tradições e memórias” do território.

Na ocasião, José Luís Peixoto referiu-se a este evento como “um momento que devemos aproveitar para chamar a atenção para o sentido que faz e para o correto que é aqui, no concelho de Óbidos, sublinhar a importância destas áreas que são a literatura, as viagens e os viajantes”.

“Juntar a literatura e as viagens sem percorrermos o nosso território e sem mostrarmos aquilo que é a nossa identidade, seria termos um festival menos preenchido”, afirmou José Pereira, vice-presidente da Câmara Municipal de Óbidos.

Este “é um evento que tem vindo a crescer, de ano para ano, fortalecendo cada vez mais laços de identidade e território, numa estratégia de promoção e divulgação dos locais, do seu património material e imaterial”, referiu Margarida Reis, vereadora com o pelouro da cultura na autarquia obidense.

Exposição “Retratos Contados de Alice Vieira

De entre os pontos altos da programação deste festival, destaque para a exposição “Retratos Contados de Alice Vieira – 45 anos de obra literária” que inaugurou no dia 11 de abril, com a presença da escritora no Museu Abílio de Mattos e Silva.

Esta exposição, com curadoria de Nélson Mateus, marca o arranque das celebrações dos 45 anos de obra literária de Alice Vieira e vai estar patente até 19 de maio.

Perante uma plateia repleta de alunos, Alice Vieira falou da sua história enquanto autora e contou alguns episódios da sua trajectória e também da forma como escreve.

“Eu só escrevo para mim. Para ‘pequeninos’ tenho muito poucos [livros]. Agora, para adolescentes, jovens, aqueles livros que eles leem são os livros que escrevi para mim. Portanto, podem ser lidos por qualquer pessoa”.

Durante o seu momento de partilha, Alice Vieira revelou ser muito importante para si ir às escolas, para perceber “como é que os miúdos falam”. “Eu oiço como eles falam, o que dizem e o que é que lhes interessa. É muito importante para mim e para os alunos”, manifestou.

Nesta viagem pela sua vida e obra, é possível apreciar fotografias da infância de Alice Vieira, registos da sua vida enquanto jornalista e autora, ou manusear e folhear alguns dos seus livros, cuidadosamente colocados nas paredes do Museu Abílio de Mattos e Silva.

Aos 81 anos, Alice Vieira conta hoje com vários prémios de literatura e dezenas e dezenas de livros publicados.

Momentos antes da visita guiada, Filipe Daniel, presidente da Câmara Municipal de Óbidos, referiu ser “uma honra e um orgulho” contar com a presença, em Óbidos, de referências internacionais como José Luís Peixoto ou Alice Vieira, “alguém cuja obra me fui habituando a ler”.

“Também a presença das escolas é, para nós, muito importante. Agradecer às professoras e aos alunos estarem aqui connosco, e também em nome de quem produz. Porque perceber que está aqui o público-alvo daquelas que são as suas visões, as suas partilhas em escrita, é muito gratificante”, referiu o autarca.

Relativamente ao Latitudes, Filipe Daniel salientou que o executivo está a “fortalecer o festival”, e a “restabelecer a importância que um evento de viagens e de Literatura deve ter no concelho de Óbidos”.

“Esta nossa estratégia Óbidos Vila Literária assenta muito em dois eventos, mas temos aqui um conjunto de iniciativas que visam uma aproximação à comunidade, chamando as pessoas a participar para mostrarem aquilo que de melhor se faz nas suas freguesias”.

Margarida Reis, vereadora da cultura na autarquia de Óbidos, dirigiu uma palavra especial de agradecimento à autora Alice Vieira, “porque ao escrever muito para as escolas e para os jovens, está a escrever para nós, adultos”. “Porque é por aí que começa a nossa literatura e a nossa formação. Realmente, através do livro, conseguimos explorar a educação dos nossos alunos”, referiu.

Protocolo com Plano Local de Leitura

Destaque ainda para a assinatura, também no dia 11 de abril, na Casa José Saramago, do protocolo do Plano Local de Leitura entre o município de Óbidos e o Plano Nacional de Leitura 2027, iniciativa destinada a implementar e desenvolver políticas de leitura pública na área da formação de leitores. Marcaram presença a comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, e o presidente da Câmara Municipal de Óbidos.

A vereadora fez um balanço positivo do festival, revelando que “não é apenas um evento literário de destaque, mas também um reforço da estratégia literária e cultural de Óbidos, Vila Literária da UNESCO, onde as histórias ganham vida nas ruas repletas de viajantes e os livros são celebrados como ‘mapas’ culturais para a fruição da palavra escrita e falada”.

Para além de lançamentos de livros, conferências, exposições, oficinas, a programação deste ano do Latitudes contou ainda com espetáculos de música, dança, teatro, que celebram de diferentes formas a relação da arte performativa com a língua, a literatura e as viagens.