Os materiais da exposição são em grande parte inéditos, e outros originais da época, e passados 50 anos ganharam a aura de documentos históricos, que sinalizam uma revolução, testemunho patente no poema de Sophia de Mello Breyner, a 27 de Abril de 1974: “Esta é a madrugada que eu esperava”.
A fotografia do poeta, cantor e compositor Zeca Afonso é da autoria de José Nascimento.
Entre as fotografias patentes na mostra, encontram-se algumas do espólio da Foto Franco, cedidas pela Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha e da Foto Queiróz através da historiadora Joana Tornada, autora do livro “16 de Março”. Estão ainda patentes fotos do coronel Vitor Carvalho, Élia Mendonça e de outros autores desconhecidos.
Élia Mendonça, da Associação José Afonso e da comissão organizadora que iniciou a abertura oficial da exposição, disse que “não podemos esquecer o legado cultural, afetivo, solidário que o Zeca nos deixou, por isso é que trabalhamos de muito boa vontade, graciosa e amorosamente, como ele nos ensinou, para que as coisas sejam possíveis e a cidade usufrua um pouco daquilo que é a sua história local, por muitos desconhecida”.
A responsável recordou que no 25 de Abril, com a “dúvida” para onde é que as “coisas caminhavam, as pessoas saíram à rua e estão aqui hoje alguns dos intervenientes desses primeiros momentos públicos de manifestação”. Lembrou ainda que “não falharam à exigência de libertação dos presos políticos em Peniche e não falharam no agradecimento público aos militares do 16 de Março, que se realizou aqui nas Caldas, no dia 29 de abril, e que podem ver através da exposição que foi uma manifestação popular não organizada e que encheu a cidade”. Segundo Élia Mendonça, Caldas da Rainha soube “sempre responder àquilo que era importante na altura”. “As fotografias do 1 de maio são representativas da pujança da cidade nesse tempo”, salientou.
Apelou ainda à população que esgote o concerto de fraternidade, único no país, que vai decorrer na noite de 25 de abril no CCC – Centro Cultural e Congressos de Caldas da Rainha, entre os povos de Portugal e Espanha, com a galega Uxia, Luís Pastor e com o sobrinho de Zeca, João Afonso. “É um concerto que tem o apoio da Câmara das Caldas e do CCC, esperando que a cidade saiba dar a resposta a este acontecimento que marca os 50 anos da Revolução dos Cravos”, manifestou.
A vereadora Conceição Henriques destacou a “capacidade fantástica” que Caldas da Rainha tem de “através da sua sociedade civil contribuir para os grandes momentos da cidade”.
Está muito “feliz” com a programação do 25 de Abril nas Caldas, que é bem a “expressão do que é o Portugal democrático”. Segundo Conceição Henriques, foi feita a “revolução para que as sociedades se envolvam naquilo que lhe é significativo” e nesse sentido agradeceu à Associação José Afonso. que tem “sido um parceiro incansável a dinamizar ações importantes “.
A autarca disse que raramente chora por “tristeza”, mas comovo-me “muito ainda hoje com o espírito do 25 de Abril que eu testemunhei com a idade de dez anos e que ainda hoje permanece”.
O presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, recordou Zeca Afonso, que teve na cidade uma “convivência fantástica e que deixou marcas para a vida, sentidas pela Associação José Afonso, que já existe há anos e que sente a obrigação de promover a mensagem do cantor e compositor”.
“A associação tem feito um trabalho notável e este ano o trabalho tem tido uma dimensão maior devido aos 50 anos do 25 de Abril”, adiantou, revelando que a “democracia tem que ser alimentada”.
O ator caldense José Carlos Faria, que também faz parte da comissão organizadora, explicou o critério que preside à estruturação e organização da exposição. “Ela tem três datas chave, que são o 16 de Março, o 25 de Abril e o 1 de Maio, e também algumas coisas que aconteceram de forma espontânea mas que são a tradução de uma enorme vitalidade e de alegria que passou pelo país e também teve incidência nas Caldas da Rainha”, contou.
José Carlos Faria destacou a grande manifestação espontânea a 29 de abril pela “libertação dos oficiais que estavam presos na sequência do 16 de Março e que o 25 de Abril veio resgatar do Presídio Militar da Trafaria”.
Testemunho de José Nascimento
José Nascimento é um dos elementos que está numa das fotografias da espontânea manifestação que decorreu a 27 de abril nas Caldas. Este responsável, que também faz parte da comissão organizadora da mostra, contou que na noite de 24 de abril “tinha em casa uma pequena tipografia em caixa de madeira e com um rolinho de tinta imprimimos nessa noite os folhetos que foram distribuídos à porta da Secla, no dia 25 de Abril às 07h30, que convocava para uma manifestação para o dia 1 de maio, que foi muito grande devido à revolução”.
José Nascimento lembrou ainda que a 16 de março, no Café Central, “estava eu e um grupo de pessoas interessadas na situação política do país, quando soubemos que havia uma movimentação no quartel do Regimento de Infantaria 5 e visto que tinham sido cercados os acessos, fomos para o bar Ferro Velho e tentámos observar o que se passava.
A exposição poderá ser visitada até 4 de maio. De segunda a sexta das 10h00 às 13h30 e das 14h00 às 16h00; sábados, domingos e feriados das 10h00 às 13h00 e das 13h30 às 16h30.
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