Fernando Jesus, vice-presidente do Núcleo das Caldas da Rainha da Liga dos Combatentes, afirmou que “o dia 16 de março de 1974 foi um grito de revolta iniciado pelo Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha, em prol daquilo que mais tarde se conseguiu a nossa liberdade”.
Segundo este responsável, “havia um contexto generalizado de mal-estar da população e das forças militares pelo arrastamento do conflito ultramarino que já ultrapassava os dez anos e que foi desgastando as famílias na sua dádiva daquilo que forneceram ao Governo em matéria humana para estarem presentes no conflito”. “Muitos deles não percebiam o contexto em que estavam envolvidos e não entendiam o porquê e o que estavam a defender”, contou.
“Dois dias antes do 16 de março os comandos foram demitidos e isto fez com que provocasse um aceleramento naquilo que estava planeado, porque o movimento de forças armadas estava na sombra a programar alguma situação que alterasse o contexto político”, adiantou.
Explicou ainda que tendo em conta essa demissão, “uma força conjunta de diversas forças saiu no dia 16 de março para Lisboa para alterar o contexto político, mas infelizmente por falhas diversas a única força que marchou foi a das Caldas da Rainha”.
O vice-presidente do Núcleo das Caldas da Rainha da Liga dos Combatentes garante que foi “um ensinamento, porque apesar de ser uma ação de insucesso permitiu que fossem feitas correções que um mês depois resultaram no 25 de Abril com sucesso”.
Presente na cerimónia esteve o presidente da Assembleia Municipal, Lalanda Ribeiro, que destacou o facto de estarmos a assinalar os 50 anos do 16 de março, um “dia histórico” e que não pode ser dissociado do que viria acontecer 40 dias depois, a 25 de Abril de 1974.
Para o autarca, “havia o sentimento de que alguma coisa estaria para acontecer devido ao descontentamento das chefias militares”.
Lalanda Ribeiro tem a opinião que “o 16 de março foi um golpe preparado para ser só os militares das Caldas a saírem para se poder testar as resistências que poderia haver para quando houvesse realmente uma ação onde estivessem envolvidas muitas mais forças”.
Apontou que o 16 de março é “a primeira ação no terreno do 25 de Abril e que levou à conquista da liberdade”.
Disse que não se tratou de um “golpe falhado”, mas antes de um golpe importante para o que viria a acontecer a seguir. Considera que é uma data que deve de ser comemorada a nível nacional, juntamente com o do 25 de Abril.
Segundo sustentou, os jovens das Caldas têm que saber o significado e a importância que o 16 de março teve para a conquista da liberdade. Deixou a sugestão aos investigadores e historiadores que “possam estudar a fundo a revolução das Caldas”, alertando que os testemunhos pessoais vão sendo cada vez menos porque “devido às idades vão falecendo tanto do campo militar como no campo civil”. Defendeu também uma obra sobre o 16 de março para que nunca seja esquecido.
Na sua intervenção, o presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, salientou que o 16 de março pode ser “aos olhos de alguns uma tentativa falhada, mas representou um prenúncio do acontecimento mais relevante da história recente do país, com a revolução do 25 de Abril, que haveria de instituir o regime democrático em Portugal”.
Para o autarca começa a haver a nível nacional um conhecimento da “importância que os militares que integraram a coluna militar que saiu do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha na madrugada de 16 de março tiveram para a revolução dos cravos”.
O presidente destacou o monumento alusivo à revolta das Caldas feito pelo escultor José Santa-Bárbara e que representa “o grito da revolução das Caldas”.
Vitor Marques destacou ainda que “também estamos a assinalar aqui hoje os 50 anos de democracia”. Alertou, no entanto, que a liberdade se pode perder de um dia para o outro, daí que “tem que ser construída todos os dias”.
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