Captar novos jovens árbitros de futebol e de futsal foi o mote à conferência que fez encher o auditório da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, no passado dia 2. Os caldenses António Nobre, árbitro internacional FIFA, e Nelson Pereira, árbitro auxiliar nacional, foram os oradores que os alunos queriam ouvir e que suscitaram muitas perguntas
A iniciativa foi organizada pelo aluno Bernardo Silva, do 3º ano do Curso Técnico de Desporto, no âmbito da sua Prova de Aptidão Profissional (PAP).
A palestra iniciou com Bernardo Silva e os alunos a fazerem várias questões aos árbitros, gerando uma conversa interessante à volta da vida de “quem apita”.
Como lidam com as críticas? António Nobre disse que desde que chegou à Primeira Liga tenta não ver “programas de comentário desportivo e ler jornais desportivos”, porque é “muito fácil perder o foco do que é importante do jogo”. Diz que o mais importante é “lidar com o jogador”. “Estão sempre a buzinar ao ouvido, mas é a parte mais fácil porque no final todos entendemos o futebol. Eu percebo a função deles e eles percebem a minha”, referiu. O árbitro caldense disse que conta pelos dedos de uma mão “as situações menos positivas que teve com os jogadores”.
Nelson Pereira afirmou que “hoje em dia estamos muito expostos e também não tenho por hábito ver um programa televisivo que comente o desporto, porque é demasiado escrutínio”.
Como convivem com a pressão dos adeptos no estádio durante um jogo? António Nobre respondeu que “é mais fácil porque ouço muito ruído mas não se percebe nada”. Deu o exemplo de que no estádio do Dragão passa uma música a seguir a cada golo do Porto e eu “não me lembro de uma única vez ouvir essa música no jogo”. “Sei que ela toca, mas eu estou tão concentrado que nunca ouço a música”, relatou.
Nelson Pereira indicou que com o estádio cheio ouvem muito ruído “mas não percebemos um terço do que as pessoas dizem”. “Há quinze dias fui fazer a arbitragem de um jogo da Taça de Portugal, do Serpa contra o Gil Vicente, e neste campo consegui ouvir as bocas dos adeptos”, descreveu, revelando que “houve um elemento do público que me disse: a diferença de um burro alentejano é que nasce no Alentejo e um burro como tu nasce em qualquer lado”. “Nos campos mais pequenos, com poucos adeptos, ouvimos mais, apesar de isso não nos influenciar nada, porque sabemos que eles estão a criticar o árbitro e não a pessoa”, contou.
“Inclusive temos treinadores que dentro do campo nos tratam mal e fora cumprimentam-nos”, adiantou.
Falaram ainda do videoárbitro, que ajuda a “equipa de arbitragem nos lances muito difíceis”.
Quanto à nota que dão à arbitragem portuguesa, António Nobre comentou que “não está mal a nível europeu, apesar de não termos nenhum árbitro no Mundial. É uma questão de tempo”.
Depois das várias questões os árbitros caldenses falaram um pouco sobre a profissão, como iniciaram e deram dicas para quem deseja ingressar.
António Nobre e Nelson Pereira jogaram à bola juntos e iniciaram a arbitragem no distrito e “agora estamos lá fora a fazer jogos juntos”.
Jogaram no Caldas e o gosto pela arbitragem nasceu com a paixão que têm pelo futebol. Apesar do preparo mental para aguentar a pressão, os árbitros caldenses consideram que “ser árbitro é apelativo para os jovens”. “É preciso ter bom condicionamento físico e conhecer a regra na ponta da língua”, sublinharam.
Ambos disseram que trabalham muito e dão o seu melhor em todos os jogos e que também podem “cometer erros como os jogadores”.
Foram unânimes em afirmar que “não existe um jogo igual ao outro”. Visualizam exemplos de jogos passados, como forma de “se prepararem e averiguar se tomaram as decisões corretas”. Ainda assim, momentos antes da partida fazem uma reflexão sobre as situações extras que poderão ocorrer durante o jogo e estão preparados para tomar decisões rápidas e corretas”.
“Fazemos grandes jogos, estamos em grandes palcos que estávamos habituados a ver na televisão”, relataram, acrescentando que têm “orgulho no que estão a fazer”.
Recrutamento de candidatos a árbitros
O presidente da direção da Associação de Futebol de Leiria (AFL), Manuel Nunes, o presidente do Conselho de Arbitragem da AFL, Carlos Amado, e o diretor da AFL, Rui Alexandre, estiveram presentes nesta ação de sensibilização de recrutamento de candidatos a árbitros na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.
Carlos Amado disse que o Conselho de Arbitragem da AFL está a desenvolver cada vez mais a arbitragem feminina, captando mais “jovens do sexo feminino para a formação de árbitros”.
Quanto à falta de árbitros no futebol de formação, o responsável declarou que “neste momento a AFL está numa situação limite”. “Conseguimos cumprir os jogos, mas temos alguma dificuldade devido àquilo que são a ocupação dos nossos árbitros na Federação Portuguesa de Futebol, onde temos em alguns fins de semana 60 árbitros nossos no futebol e no futsal ao serviço da Federação”, relatou.
“A arbitragem é um projeto inacabado. Todos os anos temos que renovar os quadros para dar seguimento àquilo que é a arbitragem dos jogos do distrito de Leiria”, informou.
O curso de árbitro de futebol e futsal irá decorrer nos dias 11 e 12 de novembro, com a oferta do curso, bolsa de estágio e kit de equipamentos.
Os árbitros caldenses ofereceram uma camisola a Bernardo Silva, que é arbitro federado de futebol.
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