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Histórias do termalismo

18. De Santa Cruz aos Cucos

Jorge Mangorrinha

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No passado sábado, integrei a visita ao roteiro da arquitetura de veraneio de Santa Cruz (Torres Vedras) e à exposição de desenhos do arquiteto André Baptista, de quem fui docente, no curso de Arquitetura, revelando-se como um dos melhores alunos e, presentemente, um exímio e profícuo artista do desenho à vista (e aguarela). Torres Vedras tem estas praias, que uma vez mais visitei, mas mais perto da cidade, na estrada de Runa e Dois Portos, tem as Termas dos Cucos, rodeadas de pequenas colinas, que limitam uma bacia quase circular abrigada dos ventos, também elas próprias para veraneio e que merecem uma dedicação especial.
Jorge Mangorrinha

A história da utilização das águas e lamas medicinais dos Cucos remonta a 1746, quando o cirurgião do partido da Câmara de Torres Vedras, Máximo Moniz de Carvalho, as pôs a uso. Julga-se que este cirurgião tenha sido o primeiro médico a prescrever estas águas e lamas medicinais, embora haja vestígios mais antigos encontrados de uma povoação romana, junto às edificações da Quinta da Machêa (derivante de “mão cheia” ou “má cheia”), da qual fazem parte estas termas.

Em meados do século XIX, as instalações eram modestas. João Gonçalves Dias Neiva melhora-as e isola o rio Sizandro. A Companhia da Diligência de Torres Vedras para Alhandra passa ali a ter uma paragem, estimulando a ida de mais aquistas, reforçada pelo comboio, que chegou a Torres Vedras em 30 de Dezembro de 1886, sendo a Linha aberta ao público em 21 de Maio de 1887. Curioso é notar que este novo meio de transporte não passou desapercebido a José Gonçalves Dias Neiva, o proprietário, que quis dotar a Quinta de um apeadeiro. A 24 de Abril de 1905, a Direcção de Via e Obras da Companhia Real autorizou a sua construção, depois conhecido por “apeadeiro real”, porque consta que familiares de D. Carlos e o próprio D. Manuel II o utilizavam nas suas deslocações a tratamentos nestas termas, que já possuíam projeção internacional, sendo frequentadas tanto por residentes locais como aquistas provenientes das regiões de Lisboa e do Porto e, também, do Brasil. O apeadeiro terá sido desativado há cerca de 100 anos.

Desde o ano em que o país legislara pela primeira vez a exploração das águas (1892), procedera-se a um plano de urbanização, concebido pelo condutor de obras públicas António Jorge Freire e pelo seu proprietário, José Gonçalves Dias Neiva, visando, inicialmente, o melhor e mais racional aproveitamento das águas, bem como oferecer mais comodidade aos utentes. A descoberta de uma nascente com fértil caudal levou-o a empreender a construção de um “estabelecimento de primeira ordem”, dotado com todos os requisitos terapêuticos modernos, o que correspondia a uma nova ambição, associada a inverter o estado de crise económica da região, devido à destruição dos vinhedos pela filoxera. No seu requerimento, pedindo a concessão de licença para a exploração destas águas e remetido ao Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, em 27 de janeiro de 1893, o proprietário dá conta dos estudos efetuados, em 1890, para a pesquisa e captação das águas e para o edifício apropriado que se encontraria concluído e “dotado com todos os mecanismos e aparelhos mais modernos”. Este plano é o único que traça de raiz o conjunto de equipamentos essenciais ao funcionamento de uma estância termal e, como tal, possui um valor analítico ímpar, embora nunca tenha sido concretizado na sua totalidade, perdendo o efeito urbano que se projetava.

As obras incluíram o desvio do leito do rio. Os trabalhos iniciaram-se a 26 de novembro de 1890 e prolongar-se-iam durante um ano e meio, apesar das dificuldades encontradas na captação da água. O plano incluía 40 moradias iguais, dispostas de um lado e de outro da avenida, um hotel com 300 quartos, estabelecimento termal, capela, mercado, casino, para além de pequenas casas para albergues e um solário para crianças.

No ato de inauguração, ocorrido a 11 de junho de 1892, estavam concluídos o estabelecimento termal e os anexos, a praça e a avenida, sendo construídos, nos anos seguintes, o casino, o hotel e a capela, sendo que, das 40 moradias projetadas, apenas se construíram duas, por dificuldades financeiras.

O estabelecimento termal foi projetado com três pisos: no piso térreo foram instalados os serviços de balneoterapia, duches e banhos, para além de gabinetes administrativos e de receção, e o piso das piscinas, a uma cota inferior ao pavimento térreo, foi destinado a diferentes serviços, designadamente de balneoterapia por via das águas e das lamas (extraídas de uma mina localizada junto à buvette exterior), de salas para inalações e gargarejos, para além de instalações técnicas anexas. O desenho apresenta uma planta quase simétrica, pontuada por um corpo central mais elevado, cujo último piso foi destinado a habitação do proprietário.

No relatório de inspeção (1906), o médico Tenreiro Sarzedas considera que este estabelecimento se deveria indicar “como modelo de perfeição architectonica em adaptação hydromedicinal”. E mais adiante refere que nada falta ao serviço “d’aquella bella estancia, e tudo que alli há obedece, nos mais rigorosos preceitos, á mais cuidada hygiene. Mencionar o que alli há, na descrição acanhada que um relatorio pode permittir, seria ir tirar a magnificiencia de que é revestido tudo que possue e que no seu conjunto torna a Estancia dos Cucos das mais bem providas na installação, e das melhor deffendidas pela satisfação a todos os preceitos hygienicos”.

Estas afirmações, vindas de um especialista a quem o Governo confiava a inspeção da atividade das termas portuguesas, tornam verdadeiramente importante a obra levada a efeito no vale dos Cucos, no contexto do novo impulso verificado nas termas portuguesas a partir de finais do século XIX. Presentemente, é o conjunto termal português que ainda mantém a originalidade, embora fechado e à mercê de vandalismo e da degradação natural por falta de manutenção e uso.

Já classificado, pela Direção Geral do Património Cultural, com base no meu relatório (2006) como coordenador científico do Rastreio e Levantamento dos Conjuntos Termais Portugueses (Continente) para o ex-IPPAR, Instituto Português do Património Arquitectónico – anterior instituto público que funcionou durante 15 anos (1992-2007) –, os herdeiros do médico José António Vieira tentaram parcerias com outras entidades, mas sem efeito, desde que as instalações encerraram em meados da década de 1990, nunca mais abrindo as portas aos aquistas. Designadamente, em 2005, a JBMG Arquitectos desenhou um complexo integrado de toda a Quinta da Macheia, Termas do Vale dos Cucos e Espaço Adjacente, como Estudo de Viabilidade referente a uma Unidade Hoteleira, Campo de Golfe e diversas estruturas de apoio, mas sem seguimento.

Tivesse eu capacidade financeira, apostaria naquele local, porque, à semelhança das Caldas da Rainha, mas num contexto rural, estas termas têm tudo para dar certo, pelo seu microcosmo original intacto, pelas suas características aquíferas e terapêuticas, pela sua localização geográfica e pelas suas acessibilidades.

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