O desejo de conhecer melhor o património e de o visitar mostra-nos como ele nos permite transmitir conhecimentos no sítio, entusiasmando o visitante, que poderá partilhar as experiências com outras pessoas. Os lugares de visitação têm como objetivos valorizar a cultura e dar vida à sociedade, que é plural, diversa e multicultural. O património e os museus devem contribuir para o bem-estar social, para o orgulho dos cidadãos da comunidade e para a surpresa e o espanto de quem os visita.
Não é a fotografia nem o vídeo que nos reproduzem o cheiro e os sons destas águas, o tato nas paredes envelhecidas e o sentimento de se estar num espaço secular com a espessura do tempo. É o espírito do lugar, que define a experiência e a leva como memória.
Aproveito para sugerir que, pela rede local de museus, se dediquem maiores esforços para melhorar a informação digital. As páginas web, além de fornecerem informações úteis para os turistas e visitantes, devem ser traduzidas em diferentes línguas, com informação substantiva e criativa. Resta insistir na importância de estes espaços darem uma dimensão às possibilidades que oferece a promoção turística, como meio de divulgação fora dos limites da cidade e da sua envolvente, bem como assim, mostrarem as potencialidades que o visitante talvez desconheça, estabelecerem relações sólidas com os públicos e abrirem ao mundo coleções, patrimónios e histórias muito particulares e, nalguns casos, únicos.
O Hospital Termal é uma das pérolas da cidade e um caso singular à escala mundial.
Lembro que, no mandato autárquico de 2002-2005, enquanto vereador do Planeamento Urbanístico, Património e Termalismo, se realizou, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, a apresentação formal do Projeto de Pré-Candidatura a Património da Humanidade “Caldas da Rainha: Património das Águas”. A defender este projeto, junto do presidente da Comissão Nacional da UNESCO, Dr. José Sasportes, estiveram os presidentes da Câmara Municipal e do Conselho de Administração do Centro Hospitalar, o vereador do Planeamento Urbanístico, Património e Termalismo, o presidente da Comissão Executiva do Conselho da Cidade, os professores Luís Aires-Barros e Leonel Fadigas, o designer Henrique Cayatte e o presidente da associação PH – Património Histórico.
Com a entrega do documento oficial e apresentados os argumentos por parte das individualidades e das instituições presentes, o presidente da Comissão Nacional da UNESCO fez o enquadramento dos projetos conhecidos no país, salientando que, à parte de três candidaturas mais avançadas, não existiam outras em estado adequado para se constituírem como candidaturas a curto prazo.
Da parte da Comissão Executiva da candidatura das Caldas da Rainha foi referido o interesse em projetar uma candidatura apenas a médio ou longo prazo, o que permitiria o desenvolvimento de ações de salvaguarda e valorização patrimonial, de acordo, também, com a opinião do presidente da Comissão Nacional da UNESCO. Foi salientado o interesse no estabelecimento de um protocolo com a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a criação de um Centro Internacional de Estudos e a procura de uma rede internacional de estâncias termais com características históricas idênticas às das Caldas da Rainha.
Concretizou-se aquele que será, porventura, o mais substantivo livro sobre as Caldas da Rainha, como uma das primeiras etapas do processo, intitulado com o mesmo nome do projeto de pré-candidatura, abriu-se caminho à rede internacional e protocolaram-se parcerias com diferentes instituições. Faltará a criação de um Centro de Investigação, como por várias vezes defendi, e, essencialmente, retomar o caminho em direção a uma verdadeira Cidade Termal.
O património associado ao Hospital Termal tem valores de singularidade e universalidade, com respeito pelos critérios culturais e naturais combinados, designadamente, pela exemplaridade e pela permanência dos valores assistenciais aos mais desfavorecidos e pelas características geoquímicas e geotérmicas da água de natureza bastante peculiar.
Porém, os anos seguintes ao período desta iniciativa confirmaram algumas doenças, que as águas das Caldas não curam, que fizeram esquecer ou adiar as etapas desta iniciativa. O património sobrevive, e eu também para vos contar algumas histórias do passado e explicar outras a quem nos visita.
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