Criada em 1987, por Dário Pimpão, um licorista autodidata que decidiu continuar a arte do seu pai e que não queria que limitar-se à produção de ginja, atividade essa que ocupou as gerações anteriores, que comercializavam a produção local de ginjas para outras fábricas de licor de Lisboa e Alcobaça.
Foram esses conhecimentos herdados por tradição oral e a acesa paixão pela terra que fizeram com que o fundador da marca Opiddum canalizasse todo o fruto disponível para o seu negócio de produção de licor, que hoje em dia ainda continua a ser feito de forma artesanal.
A esta paixão pela ginja juntou-se mais tarde a sua filha Marta Pimpão, que tal como o seu pai, toda a vida lhe cheirou a ginjas em casa, seja em fruto ou seja em licor. Mas o irrevogável apelo levou Marta a formar-se em biologia marinha, área que nunca exerceu, acabando mais tarde por voltar aos ginjais da aldeia de Sobral da Lagoa.
“Às vezes é preciso sair, nem que seja para saber que nunca devíamos ter saído, e para percebermos onde é o nosso lugar. Então acabei por voltar para aqui”, contou Marta, diretora geral da Oppidum Ginja de Óbidos, que juntamente com o seu pai fez com que a empresa familiar crescesse e passasse dos fundos de uma padaria antiga para ser hoje uma marca com uma presença autónoma no mercado nacional e internacional.
Na Opiddum, o processo da produção da ginja continua artesanal, desde logo na seleção do fruto nos ginjais, com apanha manual, a escolha criteriosa dos frutos, e o conhecimento dos produtores, que fornecem há´ décadas as suas ginjas à empresa, onde as instalações também foram adaptadas com o passar dos anos e das necessidades.
“Desde o tempo dos meus avós que temos um compromisso de ficarmos com todas as ginjas dos produtores, mesmo quando há muita produção e não necessitamos de tanto fruto”, explicou a responsável, acrescentando que “este ano ainda é pouco cedo para saber como vai ser a produção, visto que o ano passado foi de pouca produção, estando assim a trabalhar com ginjas de 2016, que há cinco anos que já estão numa infusão hidroalcoólica”.
Depois de recebido o fruto, é retirado o pedúnculo, um a um, na licoraria, passando depois o fruto para uma infusão hidroalcoólica, onde se mantém durante alguns anos, sendo um processo bastante demorado. Desta forma é possível obter um extrato alcoólico saturado em ginja, fazendo com que o sabor do fruto seja mais intenso na bebida.
Após o tempo devido em maceração, as ginjas são escorridas e esmagadas e é adicionado o açúcar. “Desde a apanha do fruto até sair em garrafa demora cerca de cinco anos, e é isso que faz a diferença em relação a outras marcas”, sublinhou Marta, destacando que “aqui fazemos tudo de uma forma muito pausada, e toda a tentativa de acelerar este processo é descaraterizar a Oppidum”. Nesse sentido, a ginja conta com ingredientes 100% naturais, sem corantes, aromatizantes ou quaisquer outros aditivos artificiais, apenas com açúcar, água, ginjas, álcool, e sobretudo a dedicação de duas colaboradoras e a “devoção de quem ama o que faz”. “São essas particularidades que conferem diferenciação à marca e quem é apreciador deste tipo de bebidas fica completamente deliciado com ela”, destacou a responsável, adiantando que “a melhor publicidade continua a ser o passa a palavra”.
“Exportação tem vindo a aumentar, sendo 10 a 12% da faturação anual”
Atualmente, o licor está presente em mais de 20 países, incluindo Reino Unido, Suíça, Estados Unidos da América, Austrália, Brasil, China ou Japão, e a “exportação tem vindo a aumentar, sendo 10 a 12% da nossa faturação anual, isto excluindo o ano de 2020, que foi sem dúvida um ano péssimo, mas mesmo assim ainda se exportou mais do que aquilo que se vendeu cá”, frisou a responsável, adiantando que a maioria dos seus importadores “ou são portugueses descendentes de emigrantes, ou são pessoas que de alguma se apaixonaram pelos produtos portugueses”.
Para este crescimento externo também tem vindo a contribuir os prémios internacionais, que têm sido atribuídos desde 2012. “Eu concorro a prémios que eu sei que me vão abrir portas a outros mercados, como foi o caso do galardão Best Portuguese Fruit Liqueur, recebido em abril deste ano”, apontou Marta Pimpão.
A par disso, a produção também se encontrava em crescimento, “sem contar com o ano passado”. Desde a miniatura à box de 4,5 litros, a marca estava a ter “um crescimento sustentado, sempre na ordem dos 5 a 10%, o que faz com que consigamos ir desenvolvendo a produção para acompanhar o crescimento, sem grandes sustos e quebras significativas”, explicou Marta, adiantando que neste momento, a empresa familiar está a recuperar do “trambolhão de 2020, trabalhando à medida daquilo que é preciso”. Para isso há novos mercados a serem trabalhados, nomeadamente em países grandes, onde estão a tentar chegar a mais zonas e ao máximo possível de clientes, porque “infelizmente, este é um produto que continua a ter que ser introduzido no mercado”.
Em compensação, a pandemia também fez com que a marca “se alargasse para outros leques”, criando uma loja online (www.ginjas.pt) para fazer face aos pedidos. “Com as lojas fechadas devido à pandemia, as pessoas tinham necessidade de comprar o nosso produto”, frisou Marta, que optou por ser ela própria a criar a loja, que está disponível apenas para fornecer o território nacional. Recentemente também desenvolveram os rótulos personalizados para empresas ou mesmo para ofertas de amigos, e ainda é possível colocar uma mensagem na garrafa de ginja, ou seja, é gravado um vídeo e colocado o respetivo código QR no rótulo da garrafa.
Para além disso, a empresa familiar também comercializa a ginga Dom Pipas, que surgiu devido ao crescente número de pedidos de um produto mais económico. “A única diferença entre estas duas nossas ginjas é que a Dom Pipas tem menos fruta, mas continua a ser natural e a ter os quatro ingredientes”, explicou Marta, esclarecendo que a marca também produz os bombons com licor de ginja e o licor de ginja com chocolate, ideia que começou no Festival do Chocolate de Óbidos, em 2005, quando Dário Pimpão adquiriu uma caixa de chávenas de chocolate e sugeriu à sua parceira, a Loja do Vinho, experimentar a venda do licor de ginja em chávena de chocolate, sendo hoje em dia uma tradição e uma imagem de marca de Óbidos.
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