A primeira notícia acerca do interesse particular em explorar estas águas data de 1896, quando um grupo de investidores, dirigidos pelo conselheiro José de Azevedo Castelo Branco, se propunha explorá-las e fazer melhoramentos importantes na praia de S. Martinho.
Refere o periódico Cavacos das Caldas, na sua edição de 1 de outubro desse ano, que “dada a realização do empreendimento está claro que um dos pontos importantes para a indicada praia será a empresa exploradora criar ali uma estação de banhos cloretados e de mar, construindo-se chalés ao longo da praia, arborizando-a com pinheiros marítimos, dando-lhe enfim uma feição tal que atraia ali concorrência”. Na sua edição de 14 de outubro de 1897, o mesmo jornal volta a falar do tema, referindo, “que abertos ao público o apeadeiro de S. Martinho e o estabelecimento das águas cloretadas de Salir”, será a povoação comunicada com Caldas e os principais pontos de Espanha, “por meio de um novo telégrafo de fios de linhol”.
José de Azevedo Castelo Branco foi médico cirurgião e político do Partido Regenerador. Na época, era Governador Civil do Distrito do Funchal. Em 1900, seria Governador Civil do Distrito de Lisboa, chegando a Ministro dos Negócios Estrangeiros do último governo monárquico.
Um outro interessado solicitou, porém, a emissão de alvará de exploração, desta vez John George, súbdito britânico. Junto ao seu requerimento, surgem pareceres sobre as virtudes destas águas, que lhes atestam “a sua rica e pouco vulgar mineralização”.
Para além do estabelecimento balnear, o plano de John George contempla hotel, casino e parque, cujos projetos não foram realizados ou pelo menos nunca apresentados aos serviços centrais. A localização do estabelecimento far- se-ia fora das emergências, sobre dunas, sendo a água canalizada até este local.
Até 1900, não houve desenvolvimentos sobre o assunto, já que apenas, nesse ano, deu entrada, nas entidades competentes, uma relação de documentos, contendo uma análise clínica da nascente “Prainha de S. Romengo”, uma planta de localização e um projeto de estabelecimento para o engarrafamento de água.
O governo não inviabilizou inicialmente a concessão, mas a entrada de um projeto em 1902 veio arrastar a situação para um impasse de duas décadas, até 1921, quando o mesmo negociante inglês apresentou um novo projeto. Neste, está previsto o aproveitamento de uma ou das duas nascentes, elevadas para um reservatório de cimento armado, assente no último pavimento da torre.
Estaria previsto, também, o aproveitamento da água do mar, a qual seria elevada para dois outros reservatórios no penúltimo piso. O aquecimento das duas águas far-se-ia nos reservatórios, por meio de serpentinas ou nas próprias banheiras (neste caso, apenas seriam necessários dois reservatórios, além de um pequeno reservatório para água para água quente, destinada a abastecer a sala de duches e outras aplicações). O balneário projetado aproveitaria a muralha e parte das fundações e tinha 5 cabinas para banhos e duches. Curioso é verificar que o projeto mantém o acesso ao balneário por mar. No final da memória descritiva, está expresso o desejo de se construir um “empreendimento a que está reservado um brilhante futuro”.
Posteriormente, houve outras tentativas de exploração destas nascentes (anos 40 e 60).
Em 1946, quando ainda se dá conta de restos de antigas banheiras de alvenaria, próximo das ruínas do velho estaleiro da época de D. Sebastião e utilizadas até o início do século XX como posto da Guarda Fiscal, o engenheiro de minas Luiz de Saldanha Oliveira e Souza faz um estudo hidrogeológico destas águas, mas tal não teria consequência em termos da construção de um balneário.
A ideia é retomada nos anos 60. Na edição de 22 de outubro de 1968 da Gazeta das Caldas lê-se que a Sociedade Águas de Salir, Lda. executa os trabalhos de prospeção das águas da Alfândega Velha, a 30 metros de profundidade, encontrando-se um “vasto lençol de água minero-medicinal que agora vem à superfície artificialmente através de longo tubo e antes brotava, por efeito da Natureza, em vários locais, todos submersos pelo mar durante a enchente”, esperando-se “a chegada de tubagem importada do estrangeiro para instalação no furo efectuado”. Esta prospeção foi iniciada em julho.
Dá-se conta (Gazeta das Caldas, 23 de julho e 10 de setembro de 1968) do hábito de as pessoas, vindas de longe e de perto, vencerem os obstáculos, através do areal e das rochas, para se banharem e levarem recipientes cheios de “água milagrosa”, não estando informados, claro, da perda de qualidades da água transportada.
E até hoje nada foi feito, mas esperamos por melhores…banhos.
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