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Fragilidade branca

Francisco Martins da Silva

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À pergunta «Considera-se racista?», alguém socialmente reconhecido como branco responderá um “não” muito ofendido. Se a seguir for perguntado se daria emprego a ciganos, a resposta será também enfaticamente negativa, agora acompanhada da previsível e estafada lista de preconceitos justificativos.
Francisco Martins da Silva

Se perguntarmos a alguém de etnia cigana por que não procura emprego, a resposta será «Porque não vale a pena. Depois de me fecharem sempre a porta na cara, desisti. Agora, sou eu que não quero. Desenrasco-me na economia de subsistência». Criado o ressentimento, se este desenrascanço prejudicar os que lhe fecharam a porta na cara, tanto melhor. E assim se perpetua o círculo vicioso.

Alargando o enquadramento para todos os outros grupos habitualmente racializados em Portugal — pretos (epíteto vexatório usado para qualquer negro de qualquer parte do mundo), chinocas (diminui-se assim todo e qualquer asiático), monhés (sobranceria para indianos, paquistaneses e bengalis) e brasileiros (qualquer que seja a pele) —, a pessoa socialmente reconhecida como branca dirá que não se considera discriminatória ou preconceituosa para com eles.

Toda a gente descrimina e tem preconceitos. A diferença de atitude advém tão-só do grau de consciência desse facto. Mas a pessoa socialmente reconhecida como branca é incapaz de admitir que ser percepcionada como branca lhe dá um estatuto social e institucional e uma identidade impregnada de direitos e privilégios legais, políticos, económicos e sociais que são sonegados a outros. Este enquadramento racial branco está tão interiorizado, tão submerso, que nunca é posto em causa pela maioria das pessoas tidas como brancas. É a esta incapacidade de reconhecer as prerrogativas tácitas inerentes à branquitude que Robin Diangelo, pensadora branca, chama Fragilidade Branca, e que é o título do seu livro recentemente publicado em Portugal pela Edita X.

Adaptando o argumentário deste livro ao contexto português, diremos que tornar a identidade branca na identidade portuguesa, convertendo crenças racistas em crenças nacionais, como se viu na campanha para as últimas eleições presidenciais, deve ser combatido com o argumento veemente de que ser-se português não é o mesmo que ser-se branco. Portugal é diverso, de jure e de facto, e muito mais complexo na nossa autocompreensão colectiva.

Também não colhe o argumento do chamado racismo inverso. Igreja, Estados-nação e Ciência não se uniram durante séculos para fazer crer que os brancos eram inferiores. Ao invés, inculcaram profundamente a ideia de que determinados grupos não-brancos são subalternos. E, como reconhece a socióloga e activista Cristina Roldão, somos mais racistas com quem temos proximidade histórica, como os brasileiros, pessoas de origem africana, indiana e chinesa ou a população cigana. Por que não há racismo com os finlandeses, por exemplo? Simplesmente, por não termos História comum. O nosso racismo tem sobretudo que ver com hierarquias raciais legitimadas durante séculos por grandes instituições da Ciência, da Igreja e da Política. É desse infeliz legado que advém a frágil percepção branca. Mas quem quer saber da História?

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