Esse senhor, depois de servir a El-Rei D. João V (1689-1750), tornou à Quinta e, ali, estabeleceu, também, a Casa Pia – onde recebeu e protegeu os desvalidos -, providenciou a recruta de dois mestre-escola (ele para os meninos, ela para as meninas, para auxílio às primeiras letras), e instituiu a Casa das Irmãs da Caridade.
Provavelmente, o seu regresso ocorreu somente após 1759 (ano em que completou 64 anos de idade), pois, nesta data específica – segundo documento, arquivado nos Feitos Findos, Fundo Geral, Letra A, mç. 1505, nº 5, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo – ainda estava incorporado aos afazeres da Sé Patriarcal de Lisboa.
Na centúria XVIII, o Século das Luzes – enquanto as ideias Iluministas ultrapassavam fronteiras, incitando às transformações, às Revoluções, como a Francesa e a industrial – Gaeiras vivia modorrentamente, enfeitada com alguns estrebuchamentos agrícolas e mentalidades alheadas à evolução que se infundia na Europa.
Essa tranquilidade e alienação, aliadas à pouca instrução da maioria da população, permitiam que a religião fosse imposta como um amparo às famílias.
António da Silva e Faria, quando para ali regressou, deu, imediatamente, início a todos os benefícios que propôs para a região, em troca recebeu, por parte da população, um respeito e uma admiração enormes. Contou, muito, o facto de ser próximo de El-Rei D. João V, e, também, 1º Mestre-de-cerimónias da Sé Patriarcal de Lisboa, que o colocava muito perto do Cardeal Patriarca. Era, sob os olhos do Império e da Igreja, a pessoa certa para agregar, a turba solta, em comunidade organizada e “feliz”, para isso, seria necessário erguer naquele local “a casa para o culto”.
Nos seus primórdios, a Capela de Nossa Senhora da Ajuda pertenceu à Ordem de São Thiago de Óbidos, possuindo somente um sino sem torre e um adro.
A citada Capela dispõe, atualmente, de um risco retangular, e é composta por uma nave com teto em caixotões, com as suas traves firmadas em escoras, ordenadas de modo longitudinal por toda a extensão da mencionada nave. O seu coro-alto, de peitoril em ferro forjado, carece de luz e de um espaçamento adequado. A sua tribuna é de corte orbicular, com balaústres. Passa, quase discreto, o seu arco “apoteótico”, de volta perfeita, que rompe para a capela-mor, com revestimento em abóboda de berço, aberta por duas janelas transversais. A frontaria é traçada por uma portada em verga direita rematada por um óculo, tendo no seu anverso uma despretensiosa torre sineira. O relógio que lá se vê foi instalado tardiamente, em 1980. É importante referir que a imagem da padroeira Nossa Senhora da Ajuda é multicolorida, porém, realçada a dourado, tendo a sua origem, também, no Século XVIII.
Apenso ao altar-mor acha-se o sepulcro de António da Silva Faria, o beneficiado.
Se pararmos para observar a história daquela centúria, alcançamos águas que correram fortemente na França, entre elas: A tomada da Bastilha, a prisão da monarquia, e a libertação dos presos políticos, propulsores da Revolução Francesa; E, no Brasil, a insurreição dos Inconfidentes Mineiros – sob liderança do grande Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier, 1746-1792) – rebelando-se contra a Coroa Portuguesa e as suas reprováveis medidas sociais e económicas.
Enquanto as transformações políticas se acentuavam por diversos quadrantes, e os grandes filósofos clareavam os sombrios recantos da mente humana, algumas dezenas de fieis adentravam portas, para cultos nada esclarecedores, numa graciosa Capela, fincada no sossego de uma região, ofuscada por ideias que ainda hoje não nos tornam independentes e fortes.
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