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Panteão

Francisco Martins da Silva

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A raiz etimológica de Panteão junta as palavras gregas pan (todos) e théos (deus) — todos os deuses de uma religião clássica politeísta.

O termo Panteão terá, a dada altura, passado a designar também o templo a eles dedicado. Um dos exemplos mais notáveis é o Panteão de Roma, encomendado por Agripa no séc. I e reconstruído no séc. II pelo arquitecto Apolodoro de Damasco, por ordem de Adriano, com a sua enorme cella circular fechada por uma prodigiosa cúpula — a morada dos deuses romanos.

Na nossa cultura, um Panteão Nacional é um grande mausoléu onde descansam os restos mortais de alguns dos nossos deuses civilizacionais. É um repositório solene da nossa identidade histórica e cultural.

Como foi insistentemente noticiado, realizou-se entre 5 e 8 de Novembro passado a formidável Web Summit, feira de tecnologias móveis onde, à semelhança do que aconteceu há um ano, se procurou vender muitos pentes digitais a carecas analógicos.

Até surgir a notícia do bizarro jantar VIP de encerramento desta cimeira dos telemóveis, não passaria pela cabeça da maioria dos portugueses que fosse hábito perturbar os túmulos do nosso Panteão com jantares. Pela sua reacção de indignação e espanto, conclui-se que até o primeiro-ministro desconhecia que, afinal, tem sido hábito organizar jantares e festas no Panteão Nacional.

A questão que surge de imediato é: que fascínio é este por jantar no meio de sepulturas?! Ou, então, não se trata de fascínio, é apenas piada de mau gosto e divertimento macabro e não há sequer a noção da gravidade e solenidade do monumento? Ou não há sequer a noção do que seja gravidade e solenidade? Talvez seja mais isto. Talvez seja apenas ir, para variar, a um jantar bué fixe, no meio de uma cena assim tipo bué antiga, ‘tás a ver?

Entretanto, há relativizações para todos os gostos, argumentando-se que também se fazem casamentos de futebolistas nos Jerónimos, em que as claques pisoteiam inconscientemente o túmulo de Pessoa e aviltam Gama e Camões; ou que também há casamentos igualmente foleiros no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, verdadeiro panteão régio; ou no Mosteiro de Alcobaça, onde também se fazem frequentemente juras mais ou menos convictas de fidelidade eterna mesmo ao lado de D. Pedro e D. Inês de Castro, etc. Também houve quem dissesse que, a par da tragédia dos incêndios e da tragédia do ar contaminado dos hospitais, mais jantar menos jantar no Panteão era para o lado que deveríamos dormir melhor. E já se sabe que, por último, sobrevém sempre o sofisma de que o património histórico, monumental e artístico, tem de ser rentabilizado. Tudo tem de estar no mercado. Os monumentos nacionais têm de ser todos convertidos em fonte de receitas, pois, se não for assim, para que servem? É claro que esta mentalidade empresarial aplicada ao Património esvazia-o de sentido e acabará com ele. É a mesma mentalidade que levou a eliminar feriados, na ânsia de melhor satisfazer a troika, sem que alguma vez se tivesse exigido tal coisa. A cegueira é tal que não se apercebe do absurdo que é a ideia de rentabilizar um mausoléu.

Mas a festa dos telemóveis, como outras festas, cruzou-se com o Panteão por mero acaso. Hoje vigora o primado das engenhocas caras e sofisticadas como o telemóvel. O sucesso da indústria destes gadgets electrónicos baseia-se na rápida obsolescência dos seus produtos. É consumir e descartar e venha o novo modelo. A noção de perenidade é absolutamente estranha a esta (in)cultura. O significado de um monumento como o Panteão, ou mesmo a noção de monumento, é absolutamente inatingível para estes seres consumidores. Portanto, o dito jantar podia ter ocorrido noutro local qualquer. Para os comensais teria sido igual, pois onde quer que estivessem, passariam sempre a maior parte do tempo ocupados com a micose dos seus pequenos ecrãs.

Por uma simples questão de dignidade e decência, o Estado deve cumprir as suas obrigações e, neste caso, garantir a preservação do seu património monumental e histórico, e quem visita o Panteão Nacional, a Capela do Fundador ou o Pinhal de Leiria, deve ser sempre encarado como um cidadão e não como um consumidor. Um monumento é sobretudo o suporte físico de um bem imaterial, simbólico, que é a memória histórica. Quando não se tem respeito pela História, compreende-se mal o presente e vai-se sem rumo, acumulam-se erros e as tragédias acontecem.

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