Terça-feira, às 10h30, 14h50 e 18h15, é altura de conhecer o testemunho dos portugueses fora de portas, na Mais Oeste Rádio, em entrevistas conduzidas por Jaime Feijão. São conversas que revelam como é a vida de quem está fora do seu país, como se sentem acolhidos nos países onde trabalham e como veem Portugal à distância.
A entrevistada desta semana foi Paula Clemente, uma emigrante que regressou ao seu país. É ceramista, viveu na cidade de Lausanne, na Suíça, entre 1988 e 2006.
Foi para a Suíça porque o seu marido estava lá a viver, mas nunca pensou ali ficar tanto tempo. Desde criança ligada à cerâmica, arte já praticada pelos seus pais, Paula conta que a adaptação nesta área na Suíça foi complicada no início. No entanto, inscreveu-se e conseguiu ser aceite na École-club Migro, uma escola onde deu cursos de cerâmica durante quinze anos. “Nessa escola e tínhamos fornos onde podia cozer e vidrar e terminar as peças, portanto, estive sempre ligada a cerâmica, praticamente nunca interrompi”, indicou.
Os alunos eram “basicamente suíços, que durante duas horas pensavam em fazer coisas criativas com as mãos e eu tinha muito boa relação com eles”.
Para além de ser professora nesta escola às sextas e sábados, também “tomava conta do imóvel onde o dono vivia”, contou.
Outro obstáculo inicial foi a língua. “Já falava um pouco de francês que se aprende na escola”, mas mesmo isso não chegando foi-se adaptando bem.
“Falava para Portugal por telefone, mas os pais também iam lá de vez em quando, foi difícil, fomo-nos adaptando, vínhamos cá duas vezes por ano, no natal e no verão.
Nunca viveu confinada aos centros portugueses e integrou-se com a comunidade suíça. “Os portugueses normalmente são bem vistos na Suíça, os suíços gostam dos portugueses, porque são trabalhadores e, cumpridores”, disse.
Paula Clemente tinha um apartamento na Suíça. “De início era um estúdio, depois mudámos para um T1, depois um T2”, visto que ao terem duas filhas tiveram de se ir adaptando às suas necessidades. A primeira língua que as suas filhas aprenderam foi o português. “Em casa sempre falámos em português”, relatou. “Depois nas escolas elas tiveram tempo de convivência com outros para aprenderem o francês, mas nunca tiveram problemas com as duas línguas”, acrescentou.
O que fez regressar a Portugal? “Em parte foi pelas minhas filhas, especialmente a mais velha, porque esteve lá no 11º ano e queria continuar cá. Ela teve que repetir o 11º ano porque não deram equivalência, fez o 12º e foi para a faculdade. Eu sempre quis vir para Portugal porque eu tinha aquela vontade de fazer o meu próprio atelier, criar peças, ter o meu espaço e achámos que estava na altura. Vim numa altura muito complicada, no início da crise, mas tenho o atelier e gosto de cá estar. Nunca equacionei a possibilidade de ter que voltar, nem sequer de passeio lá fui ainda. Tenho ideia de ir, porque tenho lá família”, respondeu.
Quando voltou para Portugal, as suas ainda eram menores – a mais velha tinha 17 anos e a mais nova tinha 9. A adaptação delas ao país não foi difícil.
Atualmente, Paula Clemente vive nas Gaeiras, tem um atelier de cerâmica, o Lagar d’Arte, onde faz as suas criações e peças de autor, e “há umas semanas dei formação no Cencal”, referiu.
Se as suas filhas um dia lhe disserem que vão emigrar para a Suíça ou outro país, porque não encontra trabalho, Paula Clemente irá “encorajá-las”.
“Gostaria pouco mas se arranjassem trabalho sim, porque é mau estarem a formar aqui as pessoas e depois terem que ir para outro país, mas se não há cá cada um tem que ir procurar”, comentou.
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