Foi mais uma vez cumprida a travessia Berlenga-Peniche em natação de águas abertas, assinalando este ano o reconhecimento da Unesco para o património da ilha do Oeste do país. O frio foi uma adversidade para dois nadadores que acabaram por desistir, mas mesmo assim tiveram cinco horas a nadar e quase no final, já à entrada do Cabo Carvoeiro, entraram nos barcos de apoio, onde estavam bombeiros voluntários e pessoal da SIV. Miguel Arrobas, que foi pioneiro na travessia ao voltar a colocar no calendário esta ligação de cerca de 15 quilómetros, foi traído pelo frio, saindo de água com sintomas de hipotermia. “Alguma vez tinha de ser”, disse, sorridente o nadador, quando chegou a terra acompanhado pelos técnicos que o acompanharam na travessia. Apesar desta adversidade, Miguel Arrobas apresentou-se bem disposto e confiante. Teve no entanto de passar cerca de duas horas no Hospital de Peniche até que os seus níveis de temperatura voltassem ao normal. Também Pedro Basílio, de 41 anos, natural de Maxiel, uma aldeia de Abrantes e que apresenta uma deficiência numa perna, acabou por desistir pelas correntes e pelo frio. “A travessia foi espectacular e dura. Tive de subir para o barco, porque reabastecia de meia em meia hora e aquilo que nadava nessa meia hora perdia quando parava, porque era arrastado pela forte corrente”, afirmou, reconhecendo “algum frio”. Este nadador portador de deficiência é técnico de natação e responsável pela equipa de Triatlo do Oriental de Lisboa e por andar de prótese não se sente inferior. “Não me sinto reduzido. Tenho é que estar melhor preparado a nível dos braços. O handicap é a navegação porque se não tiver atenção, por não ter um pé, mudo de direcção facilmente se fizer uma braçada mal dada. O desafio é ser como sou”, sublinhou o nadador, que confessou ter sido muito bem recebido em Peniche e ter sido acolhido “de forma espectacular” por António José Correia, presidente da Câmara. João Baeta, de 17 anos, foi o único nadador que este ano concluiu a travessia, e é o mais novo de sempre nadador a consegui-lo. Revelou ainda assim algumas dificuldades, pelas quais Miguel Arrobas e Pedro Basílio acabaram por desistir. “Ao pé do Cabo Carvoeiro senti um bocado de frio. Nunca pensei em desistir, porque era uma coisa que queria fazer e dedico também este feito ao meu avô, que não está cá para ver”, declarou. O jovem de Santarém e que desde os 14 que pratica a modalidade de águas abertas, disse que as correntes foram o principal problema, apesar de ter treinado com Miguel Arrobas em Cascais e na praia dos Super Tubos até à praia da Areia Branca. O principal desafio de João Baeta é entrar na Selecção Nacional de Águas Abertas, estando a desenvolver treinos até Setembro. Manuel Pinto de Abreu, secretário de Estado do Mar, esteve presente desde a primeira hora neste evento, aliás, foi mesmo o seu primeiro acto público aquando da apresentação do programa, e por isso mesmo não deixou de na prova. O elemento do Governo compareceu bastante cedo, passavam poucos minutos das sete da manhã quando chegou e só saiu quando todos os nadadores saíram da água e terminaram a travessia. “Eu não poderia deixar de estar presente por ser uma iniciativa de mar e ser um exemplo de coragem e determinação. É um bom exemplo para todos os portugueses se virarem definitivamente para o mar. É um apoio forte a Peniche para que o regresso ao mar em Portugal seja uma realidade”, disse Manuel Pinto de Abreu. O autarca António José Correia sublinhou “o acto heróico, a coragem e a generosidade enorme” dos três nadadores que fizeram a travessia. “Lutaram até à exaustão e estes são os verdadeiros amigos de Peniche. Esta travessia é um exemplo, é uma dádiva para cada um, no voluntariado, na entrega e na luta”, sublinhou. O autarca anunciou que a Berlenga está na elite das reservas naturais do Mundo, estando já em curso um caderno de encargos para três principais objectivos. “Colocarmos em terra a porta da Berlenga. Será um espaço que vai ter informação sobre o que é a Berlenga, de modo a que as pessoas antes de irem tenham contacto com aquilo que é diferente e a biodiversidade da Berlenga. O segundo compromisso são investimentos na ilha associados à produção energética através de painéis fotovoltaicos e tratamento de águas residuais e a compactação dos resíduos sólidos. Ter por fim, na Berlenga, um centro de interpretação ambiental”, anunciou, vincando que “todos seremos poucos para concretizar e honrar este compromisso da Unesco”. António José Correia vincou também que “entrámos na elite mundial e não queremos sair de lá”, destacando o trabalho do grupo de trabalho permanente que já reuniu com o presidente da Unesco, depois da atribuição do galardão. Este grupo de trabalho tem de apresentar daqui a três meses um regulamento de funcionamento, onde constam os projectos do caderno de encargos, que já são do conhecimento da Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e do Território e dos secretários de Estado da Floresta e do Mar. Carlos Barroso