“Vou ali a Marrocos e já venho”. Foi desta forma que Ruben Alves se despediu dos seus funcionários antes de partir para uma fatídica viagem num avião monomotor de quatro lugares, que se despenharia em solo marroquino, ao final da manhã de 20 de Julho, provocando a morte dos quatro ocupantes. “Não sabemos o que se passou. A Embaixada disse que ele teve ainda uma comunicação com a torre de controlo, ouviu-se um ruído estranho no motor e uma explosão”, relatou Adriano Alves, pai de Ruben Alves, para quem o filho “era como se fosse um irmão”. O proprietário da Controlvídeo, uma bem sucedida empresa de sistemas de vídeovigilância, constituída há doze anos na aldeia da Delgada, no Bombarral, “ia em trabalho numa viagem de negócios” para entrar, através de um consórcio com outras duas empresas de que era sócio-gerente, na derradeira fase de um concurso público internacional na qual era a única firma portuguesa finalista. “A aviação era uma paixão dele. Tinha o brevet de piloto há seis meses mas já muitas horas de voo e era habitual levar funcionários com ele no avião, um DynAero MRC-4, quer fosse para Marrocos ou para reuniões no Porto ou no Algarve”, indicou Nuno Correia, um dos funcionários, que disse “faltar ainda a confirmação de quem ia a pilotar”. Com Ruben Alves, de 39 anos, ia um co-piloto, Tiago Casinhas, de 34 anos, residente em Évora, Yan Rochefort, luso-francês director financeiro da Algarvolt, gerida pelo empresário do Bombarral, e o marroquino Medhti, tradutor e contacto das empresas em Marrocos. O acidente ocorreu depois da aeronave, que partiu de Santarém, ter feito escala em Tânger. A um quilómetro de atingir a pista do aeródromo de Tit-Mellil, em Casablanca, onde devia aterrar, o avião despenhou-se. Sara Alves, a esposa do empresário, foi a Casablanca para reconhecer o corpo do marido, para depois ser feita a transladação para Portugal, e o funeral realizar-se no cemitério do Paul, no Bombarral. Ruben Alves tinha dois filhos, de 3 e 9 anos, e a esposa era também sócia-gerente da Controlvídeo. “Está a ter o apoio da família e depois se verá se é necessário acompanhamento psicológico”, disse Nuno Correia. Na Controlvídeo trabalham oito funcionários. “Ele era mais um amigo e um colega de trabalho do que patrão”, sublinhou Marco Figueira. A aldeia da Delgada, povoação onde viveu o conhecido agricultor Júlio Sebastião, também vítima de um acidente, tinha acabado de celebrar a sua festa anual, e agora veste-se de luto. José António, amigo de infância de Ruben Alves, recordou os tempos de escola em que o empresário “já aparecia com ideias de trabalhar no campo da electrónica”. “Ele era muito inteligente e um aluno acima da média”, apontou, lamentando o desaparecimento do amigo. “É a lei da vida”, desabafou. Francisco Gomes