Mas por detrás da cortina dos abraços, há outra história. Ele está isolado. Isolado e, ironicamente, parece até gostar disso. Manipulado por uns, vitimizado por outros, sempre a equilibrar a aparência de humildade com a necessidade secreta de impor a própria razão. Um poder silencioso, quase invisível, mas deliciosamente reconfortante para quem gosta de controlar os bastidores sem levantar suspeitas.
Em público, é ponderado, generoso, acessível. Nas entrelinhas, é estratégico. Mantém o isolamento como escudo, aceita manipulação como entretenimento, e transforma cada gesto de diálogo em oportunidade de afirmar, discretamente, quem manda. Exaltar-se publicamente, quando necessário, não é falha de temperamento. É parte do guião que poucos percebem. Abraços, palavras gentis, apertos de mão, tudo performativo, mas tão convincente que ninguém ousa questionar.
O natal, com a sua aura de ternura, torna esta dualidade ainda mais flagrante. É o homem amado que parece ter tudo, mas que na solidão dos bastidores exerce um poder silencioso, divertido e subtil. Um poder que se alimenta de olhares, de confiança, e até da própria manipulação de que é alvo. Porque, convenhamos, há um certo prazer em ser admirado e estar só ao mesmo tempo.
E o povo? O povo vê o sorriso, o abraço, o ouvido atento. Admira a ponderação. Aplaude a disponibilidade. Desconhece os bastidores, onde o isolamento, a manipulação e a necessidade de reafirmar a própria razão convivem com a imagem pública de bondade. Como em política, como na vida, nem tudo é o que parece, nem todos os gestos são inocentes.
Neste natal, talvez possamos refletir sobre isto. Sobre a diferença entre imagem e realidade, entre gestos e intenções, entre ser amado e estar sozinho. Aprender que, por vezes, o que mais brilha não aquece, que um abraço pode ser genuíno e estratégico ao mesmo tempo, e que o poder silencioso do homem solitário pode ser tão fascinante quanto assustador.
Entre sorrisos públicos e solidão privada, há sempre um homem, um poder e um natal de contrastes. E nós, espetadores atentos, continuamos a ler entre gestos, abraços e palavras medidas, sem perder a ironia, nem a vontade de sorrir perante a hipocrisia do espetáculo.
Até para a semana.










