A adolescência é aquela metamorfose em que deixamos de ser criança e nos tornamos uma pessoa adulta. Olhamos com um ar superior para as crianças, porque agora sabemos muito mais sobre a vida do que elas, e admiramos os adultos com um sentido de urgência porque só queremos que a adolescência passe o mais rápido possível.
Eu, já nos meus 30, estava aliviado por ter deixado a adolescência há muito tempo. Embora, se for sincero, ainda evidencie alguns sinais de imaturidade. Sinais que me fazem parar e refletir quando um vendedor de energia bate à porta e pergunta se sou o adulto responsável pelas decisões na minha habitação. Mas segundo a mais recente descoberta científica nesta área, o cérebro estende o período da adolescência até aos 32 anos.
Isso explica muitos dos meus comportamentos que me causam uma perplexidade interior, em que sinto que ainda devia andar sempre acompanhado por um adulto. E agora percebo que seja natural acordar com uma nova borbulha na cara, que quando estou a falar com mais entusiasmo a minha voz fique aguda do nada, ou que fique em pânico sempre que sou abordado por uma mulher minimamente atraente.
Só gostava que tivessem descoberto isto mais cedo. É que significa que estou agora no final da minha adolescência e passei os 20 a convencer-me de que já era adulto. Se pensarmos bem, é imprudente deixar que um adolescente tenha o seu próprio carro, contas nas finanças em seu nome, ou até que possa contribuir com a sua opinião para o destino do país.
E o que dizer do meu caso em que decidi casar e ser pai ainda na adolescência? Como pode ser legal que um adolescente seja também encarregado de educação? À medida que a humanidade vai vivendo mais tempo, é normal que o cérebro se vá adaptando. Antigamente, aos 30 uma pessoa já estava no final de vida. Hoje, acabou de deixar de ser criança.
Vai ser difícil para os pais que até aqui se mentalizavam de que a adolescência era só uma fase que durava uns cinco anos. Agora, quando os filhos começarem a ter as suas próprias opiniões e a mostrar os primeiros sinais de rebelião contra os pais, será insuportável pensar que serão assim até aos 32.
Sinto que agora tenho de compensar o tempo em que fui adulto no tempo da adolescência e passar a comportar-me como adolescente na fase adulta. É que foi uma grande injustiça não me terem avisado disto mais cedo. É como se o mundo inteiro estivesse contra mim. Ah, afinal ainda sou mesmo adolescente.
