Entre o Senhor Almirante e o Senhor Cabo

6 de Dezembro de 2025

Chamado a cumprir o serviço militar obrigatório escolhi servir nos Fuzileiros.

 

O Senhor Cabo C. foi o cabo instrutor do nosso curso de Cadetes.

Era exigente. Os elogios eram públicos. Os castigos privados.

Numa das vezes em que lhe esgotámos a paciência disse-nos: ”Srs. Cadetes, isto está uma merda! E se continua assim perco-vos o respeito como militares, porque como homens nunca o perderão”.

Noutro momento, em que fazíamos erros sobre erros, e nos castigou com flexões, retirou-nos de onde estavam outras turmas de cursos de praças, para uma área “escondida” onde não fossemos vistos a cumprir castigo.

O Senhor Cabo C. tinha muitos motivos para não ter esses cuidados connosco.

Nós em seis meses seríamos seus superiores hierárquicos: nós com uma “comissão” na Escola de Fuzileiros, ele com várias comissões em África, em Destacamentos de Fuzileiros Especiais – unidades de combate reconhecidas e admiradas.

Nós, chegados de uma vida bem mais protegida do que a que o levou a  voluntariar-se muito jovem para os Fuzileiros Especiais e para os riscos de combate.

Nós, com a possibilidade de vir a ingressar nos quadros permanentes da Marinha como oficiais. Ele, sem essa possibilidade real.

O Senhor Almirante quis transmitir na televisão a repreensão aos militares do Mondego. Para garantir melhor imagem e som fê-la no convés – não nas cobertas. Militares que eram pais, filhos, irmãos foram repreendidos em frente ao país.

O Senhor Almirante aplicou um castigo que não está previsto no Regulamento de Disciplina Militar. Porque só há dois castigos de repreensão: a Repreensão e a Repreensão agravada. Esta, no caso de sargentos, é dada na presença de outros oficiais ou sargentos, respectivamente de posto superior ou igual, mas, neste caso, mais antigos, da unidade, estabelecimento ou órgão a que o infrator pertencer ou em que estiver apresentado, e, no caso de cabos, é dada na presença de praças do mesmo posto, de antiguidade superior à sua. O Senhor Almirante ao escolher fazer uma repreensão perante o País, e obviamente sem cuidar da antiguidade dos repreendidos e de quem assistia, criou, de facto, o castigo de “Repreensão perante o País”. E a esse quis juntar um segundo castigo, num processo que foi conduzido de forma tão incapaz que resultou no Supremo Tribunal Administrativo ter declarado ilícitas as sanções por si atribuídas a 11 dos militares do NRP Mondego.

O Senhor Almirante num momento de pressão inventou um castigo, quebrou as garantias previstas na lei, e foi no seu quarto a condução de um processo que resultou num grave embaraço para a Marinha.

O Senhor Almirante num momento de descontração declarou numa entrevista ao “Nascer do Sol”, em 2021:  “Se entra um inglês no exercício, é o primeiro que ataco porque lhes quero tirar o snobismo. Não gosto de snobes. Aos franceses também não perdoo, porque são chauvinistas, e os alemães também não deixo escapar porque tenho família judaica. (risos)”.

Para um oficial general é uma declaração inesperada.

E como declaração de um presidente de um país com comunidades importantes no Reino Unido, em França e na Alemanha? Que embaraços em expectáveis visitas de Estado?

O Senhor Almirante é um extraordinário submarinista. O Senhor Almirante trouxe decência ao processo de vacinação. Agradeço-lho. Não me parece fadado para ser Presidente da República.

E será lamentável que não reconheça o que fez no Funchal como uma repreensão. Penso que se deve isso a si mesmo e à Marinha, antes de aos portugueses. Patton pediu desculpa.

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