Mas para a mãe que processou uma escola em Braga, pode existir um perigo ainda maior e que tem sido ignorado há várias gerações. Já existia no tempo dos meus avós, no tempo dos meus pais também se praticava e eu lembro-me de como sofri deste mal sem ninguém dizer nada. Finalmente chegou o tempo de acabar com o abominável jogo da apanhada.
Após o seu filho ter partido uma perna a jogar apanhada no recreio da escola, esta mãe processou a escola e pediu uma indemnização. O tribunal recusou o pedido e o caso vai agora para o Supremo Tribunal. O juiz teve o desplante de afirmar que «correr, brincar, tropeçar e cair fazem parte da infância.»
Claro que faz parte, mas é preciso acabar com isso. Sempre que um pai ou uma mãe deixa o seu filho na escola, nunca sabe se este vai voltar inteiro. É uma angústia saber que a criança tem instintos para brincadeiras que envolvem o risco de cair. E apesar de estudar várias disciplinas, parece que nenhuma lhes ensina que o chão aleija.
No processo estava a acusação de que o jogo da apanhada é «imprevisível e perigoso». Queremos então criar um mundo para as crianças em que tudo é previsível? Não será isso ainda mais perigoso? Que tipo de sociedade teríamos no futuro em que tudo é fácil de prever? Não teríamos bons filmes, bons livros, não haveria inovação e o bruxo Mamadou ficaria sem trabalho.
O mais importante não é pedir uma indemnização cada vez que se cai. Assim teremos um país de Mourinhos. O que é importante é cair mais vezes, para que as crianças aprendam a cair e a levantar-se.
Temo pelo futuro em que já não deixam as crianças brincar livremente. Primeiro vieram tirar as pistolas de plástico e eu não disse nada. Depois vieram tirar os desenhos animados violentos e eu não disse nada. Mas agora tenho de falar pela apanhada porque, caso contrário, o único jogo que resta é fazer tudo às escondidas. E desse já o nosso país está cansado.










