A preleção em questão faz parte de um estudo muito alargado que a dra. Isabel Alves Pinto desenvolve há muitos anos, ensaio que será publicado na íntegra, abrindo, creio, a partir daí, um patamar de discussão, a nível nacional, até então inexistente, pois, o conteúdo do tema “Direitos Humanos” é completamente desconhecido da população portuguesa, e da classe política em geral. Se não o fosse, não teríamos exemplos grotescos de tentativas de cassação de direitos de liberdade de expressão, e de pensamento, no âmago de alguns partidos políticos. Como pôde ser compreendido por todos os presentes, a “ideia” de direitos humanos pode ter surgido na conceção filosófica de direitos naturais que seriam outorgados pelo todo-poderoso, sendo John Locke, o nome de maior relevo que propagou essa hipótese. Existindo, porém, diversas correntes antagónicas, e dentro delas, uma em defesa do universalismo, outra defensora do relativismo cultural. A conferencista lembrou-nos, também, do Cilindro de Ciro, um dos documentos mais antigos vinculados aos direitos humanos. Essa escritura é meramente um depoimento de Ciro II (?-530 a. C.) – o Rei persa – desenvolvido após a conquista da Babilónia no ano 539 a. C.. Foram, no correr dos séculos, concebidos muitos documentos associados aos direitos humanos, sendo, talvez, os mais relevantes, a Carta Magna da Inglaterra (1215), a Carta de Mandén (1222), o Habeas Corpus (1679), o Contrato Social (1762), a Declaração de Direitos de Virgínia (1776), a Declaração Americana da Independência (1776), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a Declaração do Povo Trabalhador e Explorado (1918), a Carta das Nações Unidas (1945), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) (1948), o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1976), o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1976), a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1981) e a Declaração e Programa de Ação de Viena (1993). A importância da compreensão do que são os direitos humanos leva-nos a perceber quais os caminhos que devem ser percorridos para evitarmos catástrofes, como as guerras mundiais ou a ascensão do fascismo. Creio que, devido ao facto de, atualmente, poucas pessoas terem noção acerca da transcendência do tema, é que se vê, por todo o planeta, o ressurgimento de governos cujos suportes programáticos estão assentes na destruição dos valores primordiais que são a base da preservação da vida, não proclamando, tal como se refere na DUDH, “a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas; em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade”. A relevância desta declaração, que marca, como nos disse a oradora, a modernidade dos direitos humanos, delibera no facto de ser o alicerce de quase todos os documentos relativos aos direitos humanos, servindo de base a inúmeras constituições nacionais. Acrescentou ainda a oradora que, pese embora o facto de a DUDH ter nascido como documento não vinculativo, acabou por, pelo decurso do tempo e pela forma prestigiosa como é encarada pelos cidadãos e pelos estados, se transformar, na visão da doutrina internacional maioritária, numa declaração juridicamente obrigatória. Tendo já a dra. Isabel Alves Pinto uma série de conferências agendadas para diversos pontos do país, creio que o tema “Direitos Humanos” possa vir a ser alvo de discussões necessárias, pois, só ouvindo quem sabe é que conseguimos perceber como andamos a percorrer caminhos errados, para a construção de um futuro que se quer de respeito e de amor pela humanidade.
Rui Calisto
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