Desde pequeno, um dos meus maiores prazeres da vida é entreter quem me rodeia. No natal, aguardava com grande excitação a chegada da meia-noite para abrirmos os presentes. Lembro-me de um ano em que me deram a oportunidade de falar para toda a família e fazer uma breve introdução à cerimónia protocolar de rasgamento de papel de embrulho.
Eu devia ter os meus seis anos quando, já depois do jantar, alguém bate à porta da casa da minha avó. Ela foi abrir e eu deparo-me com a entrada triunfal do Pai Natal. Deixem-me ser claro: eu até ali nunca tinha acreditado no Pai Natal. Sempre percebi que eram os meus pais a comprar-me os presentes e admito que sentia uma certa superioridade em relação às outras crianças que, na sua ingenuidade, obrigavam os pais a estar numa enorme fila no centro comercial para tirar uma foto com um idoso barrigudo mascarado.
Mas naquele momento, com o entusiasmo de estar quase a abrir os presentes, tudo me pareceu demasiado real para ser mentira. O Pai Natal aproximou-se de mim e dos meus primos e diz-nos que trouxe os nossos presentes. No mesmo instante reconheci pela voz que era o meu tio. Podem estar a pensar que a breve fantasia caiu por terra, mas não foi bem assim. O meu raciocínio foi o seguinte: afinal, o Pai Natal existe… e é meu tio.
Não entrou pela chaminé nem estacionou as renas à porta, mas era escusado fazer qualquer pergunta. Naquela noite, tudo fez muito sentido e senti como se fizesse parte de alguma Família Real. Como é óbvio, essa crença idiota durou pouco tempo, mas fez-me pensar que talvez não tivesse de ser assim. Muitas crianças acreditam no Pai Natal e isso traz um sabor especial à época natalícia, mas chega o tempo em que percebem que era mais uma mentira da sociedade em que os seus pais participaram. Tal como a fada dos dentes, que não vem de noite trocar dentes de leite por moedas, ou o Bolinhas, que não foi viver para uma linda quinta com outros animais.
Por isso, tenho uma proposta para a sociedade, na verdade, tenho várias, mas vou ficar só por esta: precisamos eleger oficialmente, e a nível mundial, um Pai Natal. Acho que deve ser uma das nossas prioridades. Cada país poderia apresentar o seu Pai Natal e a assembleia de Pais Natal iria eleger por voto secreto o Pai Natal principal, que só daria lugar ao próximo quando morresse. Seria um sistema semelhante ao Papa e acho que até seria interessante fazerem uma parceria em alguns eventos. Um em nome da boa vontade no mundo, o outro em nome de Deus. Só tenho mesmo este presente na minha lista. Espero que o Pai Natal a receba.










