Não alimente o Troll

25 de Novembro de 2025

Os trolls das redes sociais são utilizadores que procuram provocar reações emocionais, gerar conflitos e semear desinformação ou discórdia. Nem sempre agem por convicção: frequentemente fazem-no apenas por “diversão”, ressentimento, ideologia ou simplesmente para testar limites. Saber lidar com eles é essencial para manter um ambiente digital saudável e para proteger a nossa própria sanidade mental.

 

Em primeiro lugar, é importante perceber o que motiva um troll. O seu principal combustível é a atenção. Cada resposta, cada reação, cada partilha ou indignação pública é interpretada como uma vitória. O troll sente-se relevante quando vê que conseguiu irritar, dividir os outros participantes na página ou grupo ou fez com que o outro perca tempo e energia. Daí a expressão “não alimentes o troll”: quanto mais se responde, mais se incentiva.

Embora o silêncio seja a resposta recomendada por alguns. A resposta mais eficaz, de facto, é o bloqueio e o silenciamento total do troll no meio (perfis pessoais, páginas ou grupos) onde este actua. Credito que o bloqueio é – mais do que o ignorar –  a forma mais eficaz de desarmar um troll. Na ausência de reação e de palco onde possa exibir o efeito do seu veneno, o troll perde o interesse e passa à próxima vítima. As plataformas digitais amplificam tudo o que gera interação, e quando alguém responde a um comentário provocatório, o algoritmo interpreta esse movimento como um sinal de relevância, promovendo ainda mais a publicação original no feed da rede social. Assim, ao respondermos a um troll: apelando ao seu bom senso, respeito ou educação não só perdemos tempo (porque esses são valores que nada lhe dizem) como fazemos exatamente aquilo que ele pretende: criamos alcance e, dando-lhe atenção, incentivamo-lo a persistir na sua caminhada destrutiva e de contaminação negativa no meio onde ele se expressa. Responder a um troll – seja de forma educada seja descendo ao seu nível – estamos a contribuir para a sua visibilidade e a destacar a sua negatividade. Se o fizermos iremos atrair outros trolls (ou outros perfis falsos usados pelo mesmo operador) e repelir os utiliadores que não gostam de negatividade, “flamewars” ou insultos cruzados e ameaças verbais ou físicas nas comunidades virtuais onde participam.

Em segundo lugar, é essencial prevenir o aparecimento de trolls no nosso espaço digital. Isso faz-se com prudência e moderação no tipo de conteúdo publicado. Temas excessivamente polémicos, divisivos ou redigidos num tom provocatório tendem a atrair perfis que procuram precisamente esse confronto. Expressar opinião é legítimo (desde que o façamos dentro dos limites impostos pela lei), mas convém fazê-lo de forma responsável, clara e fundamentada, sem ataques pessoais (nem mesmo a quem nos ataca diretamente), sarcasmo ou linguagem inflamada.

Quando um troll se manifesta, o primeiro passo deve ser avaliar a situação. Há trolls que apenas fazem comentários irritantes ou jocosos nesses casos, ignorar e bloquear é suficiente. Mas há também os que ultrapassam o limite da liberdade de expressão, entrando no terreno da ameaça, difamação, ameaças físicas, incitação ao ódio ou assédio.

Nesses casos, é fundamental agir de forma documentada e responsável:

  1. Guardar provas (capturas de ecrã com data, hora e link);
  2. Identificar o perfil, URL e contexto da publicação;
  3. Apresentar uma participação formal às autoridades. O Ministério Público pode intervir em casos de crime público (como ameaças, difamação agravada, discriminação ou perseguição), e a Polícia Judiciária dispõe de departamentos especializados em criminalidade informática.

Sempre que se tratar de um caso de ódio direcionado a grupos (por motivos de raça, género, orientação sexual, religião ou origem), deve ser denunciado também à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) ou à Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).

Há ainda um aspeto psicológico a considerar: lidar com trolls desgasta emocionalmente. Mesmo quando não se responde, ler insultos repetidos ou campanhas coordenadas de difamação pode gerar ansiedade, raiva ou medo. É importante saber afastar-se temporariamente das redes, proteger o espaço digital, restringir comentários ou tornar as contas privadas, se necessário. Nenhum debate justifica o sacrifício da tranquilidade pessoal.

Por outro lado, quem gere páginas públicas — de movimentos cívicos, associações ou figuras públicas — deve adotar políticas claras de moderação. É legítimo apagar comentários ofensivos, bloquear utilizadores reincidentes e definir regras de participação. A liberdade de expressão não é um escudo para a ofensa ou para o abuso.

Por fim, convém lembrar que o combate aos trolls é também uma questão de cidadania digital. As plataformas têm o dever de proteger os utilizadores e de aplicar as leis europeias, nomeadamente o Digital Services Act (DSA), que impõe obrigações de remoção rápida de conteúdos ilegais e de transparência nos algoritmos. Sempre que uma plataforma não reage a denúncias legítimas, deve ser feita queixa à ANACOM, que supervisiona o cumprimento do DSA em Portugal.

Em resumo, enfrentar trolls não é uma questão de valentia, mas de estratégia: não reagir, para não lhes dar palco; bloquear, para se proteger; denunciar, para responsabilizar.

A internet precisa de cidadãos conscientes, não de agitadores virtuais que são – tantas vezes – remunerados para o fazer. A nossa força – enquanto alvos – não está em responder ao insulto, mas em preservar a dignidade, a segurança e o respeito no espaço público digital que é o nosso ou que pertence aqueles que estão nas comunidades que administramos.

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