Mais de dois mil agricultores e quatro centenas de tratores participaram na passada quinta-feira numa marcha lenta nas Caldas da Rainha em protesto contra o Ministério da Agricultura. Entre outras questões, os agricultores quiseram expressar publicamente que não são os grandes responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos.
Reclamar contra a extinção das direções regionais de agricultura era o principal motivo invocado para esta concentração nas Caldas da Rainha, mas a ação organizada pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) tinha mais reclamações. “Esta manifestação deve-se à indignação dos agricultores pela incompetência do Ministério da Agricultura em executar as verbas que estão disponíveis por Bruxelas para Portugal”, disse ao JORNAL DAS CALDAS Luís Mira, secretário-geral da CAP.
Segundo a CAP, em causa está terem ficado por utilizar 1.300 milhões de euros do último quadro de apoio e o chumbo de projetos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pretendendo a organização que o Governo “altere os procedimentos e coloque as verbas europeias à disposição dos agricultores”.
Por outro lado, as candidaturas às medidas de apoio para o novo período de Política Agrícola Comum estão abertas, mas a CAP queixa-se que 80% dos agricultores não se conseguem inscrever.
Para além disso foi reclamada uma explicação para que o PEPAC – Plano Estratégico da Política Agrícola Comum 2023-2027 ainda não tenha arrancado, num momento em que os agricultores lutam com o aumento exponencial dos custos de produção.
O presidente da confederação, Eduardo Oliveira e Sousa, sublinhou o mote do protesto – “Contra a incompetência de quem nos governa – Ministério da Agricultura”, defendendo ser necessária “uma alteração profunda” no Ministério que, apontou estar “em completa desarticulação e a desmanchar-se todos os dias”, sem “uma defesa forte do setor agrícola e um reconhecimento do valor da agricultura e do trabalho dos agricultores”.
“A agricultura está muito maltratada pelo Governo e o agricultor não sabe com o que pode contar no futuro, porque as ajudas prometidas não chegam e os preços dos alimentos não param de subir, muito fruto do abandono a que o setor agrícola foi votado”, afirmou Eduardo Oliveira e Sousa, que fez notar que no país vizinho os agricultores espanhóis “receberam ajudas nos combustíveis, nos fertilizantes e têm ajudas”.
Os agricultores “não são os grandes responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos“, já que estes “nem sequer ainda refletem o aumento dos custos” de produção, disse, focando que outro problema é a seca, que pode levar em breve, na região Oeste, a “uma carência” de frutas e hortícolas.
Naquela que foi considerada pela CAP “a maior manifestação de agricultores efetuada na região Oeste” foi igualmente contestada a transferência de competências das direções regionais de agricultura para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional.
Juntaram-se neste protesto 65 organizações de produtores, de norte a sul do país, numa ação que percorreu várias artérias das Caldas da Rainha, em marcha lenta, ao som de palavras de ordem contra a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes. Simbólica foi a concentração junto à “Zona Agrária” das Caldas da Rainha (Delegação Regional do Oeste da Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo).
Nesta ação estiveram presentes para manifestar solidariedade os deputados na Assembleia da República Hugo Oliveira, do PSD, e Gabriel Mithá Ribeiro e Pedro Frazão, do Chega. Os protestos dos agricultores vão voltar a fazer-se ouvir, no dia 9, em Beja, e, no dia 24, em Elvas, informou Luís Mira, acrescentado que, além de manifestações, estão previstas outras formas de luta.
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