A Infraestruturas de Portugal (IP) assegura que já foi executada mais de 30% do total da empreitada de modernização e eletrificação da Linha do Oeste no troço entre Meleças e Torres Vedras, e que as obras estão a decorrer, mas a Comissão Para a Defesa da Linha do Oeste (CPDLO) aponta que estão “paradas” por terem sido reveladas desconformidades no projeto que terão levado o consórcio construtor a retirar metade dos equipamentos e trabalhadores.
O jornal “Público” divulgou no final de março que o consórcio confrontou-se com a necessidade de fazer trabalhos a mais na ordem dos dez milhões de euros, por ter sido detetado que havia uma desconformidade entre a base topográfica fornecida pelo projetista e aprovada pela IP, e a realidade do terreno. Na prática, de acordo com o jornal, isso obrigava a que em zonas onde se previa retificar o traçado da via férrea ou construir a via dupla, os aterros e escavações a efetuar se revelaram muito superiores aos que constavam no projeto, o que aguardará autorização.
Contactada pela agência Lusa, a IP esclareceu que a empreitada não está parada e que “as frentes de trabalho continuam a decorrer”.
A CPDLO alerta que “a paralisação das obras neste troço a que soma o atraso relativo ao lançamento da obra do troço entre Torres Vedras e Caldas da Rainha e a divisão do processo de modernização e eletrificação da Linha do Oeste em duas fases distintas (a sul e a norte das Caldas da Rainha) que poderão ter uma diferença de conclusão superior a cinco anos, revelam a ausência de empenho em fazer deste eixo ferroviário um importante vetor de desenvolvimento económico e social da região Oeste”.
Segundo faz notar, “os atrasos já registados na execução do projeto de modernização e eletrificação da Linha do Oeste impedem também que fiquem, mais rapidamente, reunidas as condições para uma melhor oferta do transporte público ferroviário, nas ligações regionais e interregionais, para a redução dos custos decorrentes da utilização de material circulante a diesel e do transporte rodoviário coletivo ou individual, designadamente nas ligações entre os grandes centros urbanos e para a diminuição dos níveis de poluição”.
Se a situação se protelar, a CPDLO assegura que realizará iniciativas que pressionem o Governo e as outras entidades envolvidas, tendo já solicitado ao ministro das Infraestruturas e Habitação uma reunião com caráter de urgência para reclamar a sua intervenção para que a obra entre Torres Vedras e Caldas da Rainha seja lançada e para a resolução do problema existente no troço entre Meleças e Torres Vedras.
À Lusa, a IP afirmou que a intervenção entre Torres e Caldas já foi contratada, aguardando-se a assinatura do auto de consignação, que marcará a data de início da empreitada, após a concessão do visto prévio ao contrato, que foi solicitado ao Tribunal de Contas em dezembro de 2021. A empreitada tem um prazo de execução de 660 dias.
A obra no troço Torres Vedras-Caldas da Rainha, ao longo de 44 quilómetros, orçada em 40 milhões de euros, compreende a construção de uma variante com dois quilómetros de extensão e correções de traçado para melhoria da velocidade no troço, eletrificação integral, estabilização de taludes e construção de muros de suporte.
Haverá beneficiação em cinco estações e quatro apeadeiros, com o alteamento das plataformas de passageiros e a criação de acessos para pessoas com mobilidade condicionada, transformação do apeadeiro de São Mamede em estação, com a construção de uma nova linha. Está ainda prevista a automatização e supressão de passagens de nível, e construção de quatro passagens desniveladas ao caminho de ferro e caminhos paralelos.
A intervenção no troço da Linha do Oeste entre Meleças e Torres Vedras, num investimento de 61,7 milhões de euros, estende-se ao longo de 43 quilómetros, com construção de desvios para cruzamento de comboios, eletrificação integral, estabilização de taludes e construção de muros de suporte, beneficiação em cinco estações e seis apeadeiros, com o alteamento de plataformas e a criação de acessos para pessoas com mobilidade condicionada, a construção de uma subestação de tração elétrica e de postos autotransformadores.
Está prevista a automatização e supressão de passagens de nível, construção de nove passagens desniveladas e intervenções em quatro túneis.
De acordo com a IP, “a obra permitirá a melhoria da eficiência e competitividade do sistema ferroviário, através do aumento da capacidade, segurança e fiabilidade da exploração e redução dos tempos de trajeto, diminuindo as emissões de dióxido de carbono”.
A eletrificação do troço até às Caldas da Rainha não só permitirá a redução do tempo de percurso desde Lisboa, como abre a possibilidade de aumento da oferta de 16 circulações para 48 (nos dois sentidos).
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