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Três trabalhadores da região morrem na Bélgica

Francisco Gomes

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Três das cinco vítimas mortais na sequência do desabamento da obra de construção de uma escola em Antuérpia, na Bélgica, na passada sexta-feira, são da zona da Benedita e Caldas da Rainha.
Alguns trabalhadores ficaram soterrados nos destroços (foto Brandweer Zone Antwerpen)

“É com grande pesar que confirmo que dos três portugueses falecidos, dois eram beneditenses, e há ainda um outro beneditense que se encontra hospitalizado. O terceiro falecido era natural de Santa Catarina [Caldas da Rainha] mas convivia e trabalhava regularmente na Benedita”, transmitiu Paulo Inácio, presidente da Câmara Municipal de Alcobaça.

“Nesta hora de tristeza é com grande consternação que apresentamos as nossas sentidas condolências aos familiares das vítimas”, manifestou, por sua vez, a Junta de Freguesia da Benedita.

Concluídas as operações de resgate, foram contabilizadas cinco vítimas mortais, sendo um dos trabalhadores com dupla nacionalidade – moldava e portuguesa, e outro romeno. Havia ainda nove feridos – quatro romenos, dois ucranianos e outros dois operários cuja nacionalidade ainda não tinha sido confirmada, e um português, que estava no hospital livre de perigo, depois de ter sido alvo de uma intervenção cirúrgica.

Três mortos e um dos feridos trabalhavam para a empresa de decoração de interiores Vaniplic, de Ribafria, Benedita, que tinha sido contratada pela empresa belga Goorden Bouw & Service. Nelson Rosário, o proprietário, que perdeu um irmão neste acidente, foi para a Bélgica a tratar das diligências com a companhia de seguros para trasladar os corpos, o que, mesmo com o apoio da embaixada de Portugal naquele país se prevê possa demorar alguns dias devido à realização das autópsias, ao cumprimento das formalidades relacionadas com a Covid-19 e à disponibilidade de transporte aéreo.

A vítima portuguesa mais jovem é Cristiano Santos, de 33 anos, residente na vila da Benedita. No sábado de manhã, quando ainda era dado como desaparecido entre os escombros, a família estava esperançosa num desfecho feliz. “É esperar e desesperar”, lamentava Ana Rebelo, a mãe, angustiada por saber que o filho tinha o telemóvel ligado, mas sem conseguir contactá-lo.

O filho não tinha vindo a Portugal nas férias da páscoa, mas já tinha contado aos pais que iria regressar a casa em julho. “Ele estava feliz por estar na Bélgica, depois de ter trabalhado num hotel em Ascona, na Suíça”, contou a mãe.

As notícias que chegaram não foram as esperadas. “Já está tudo confirmado. É uma situação muito triste”, desabafou posteriormente o pai, Pedro Santos.

De 35 anos, Carlos Quitério, residente em Ninho de Águia, na Benedita, foi a primeira vítima cuja identidade foi anunciada. Familiares reunidos em casa mostravam-se inconformados e remeteram-se ao silêncio. O trabalhador encontrava-se a viver com a atual companheira na Bélgica e tinha um filho de onze anos de um anterior relacionamento.

António Rosário, de 57 anos, residente em Mata de Porto Mouro, freguesia de Santa Catarina, era o irmão do proprietário da empresa da Benedita que laborava na obra.

O ferido é João Inácio, de 34 anos, que terá saltado dos andaimes onde os trabalhadores se encontravam, de uma altura do quarto ou quinto andar, ao aperceber-se do colapso parcial do estaleiro de construção. Caiu numa caixa de areia, que amorteceu a queda. Aparentemente não ficou soterrado, mas com a queda sofreu ferimentos.

“Continua nos cuidados intensivos mas é considerado estar fora de perigo”, revelou Maria de Lurdes, presidente da junta de freguesia da Benedita e familiar do ferido, cuja evolução clínica antevia poder em breve ser transferido para a enfermaria, onde poderá receber visitas.

“Resta-nos viver este momento difícil e triste em solidariedade com famílias e amigos”, expressou a autarca.

O trabalhador com dupla nacionalidade que morreu tinha 38 anos. O romeno falecido tinha 29 anos.

O acidente ocorreu quando trabalhavam na fachada do edifício, na sexta-feira, por volta das 15h25. O que falhou no processo de construção está a ser averiguado pelas autoridades.

De acordo com a imprensa belga, tratava-se de uma escola primária que a Câmara de Antuérpia queria inaugurar em setembro, no início do ano letivo. Teria espaço para 500 crianças e apresentava uma filosofia bastante diferente das habituais salas de aula, que eram substituídas por grandes estúdios e que poderiam ser divididos em espaços menores conforme as necessidades, num projeto de arquitetura e engenharia arrojados.

A derrocada terá começado no último piso que estava em construção. Paredes e pilares que suportavam a estrutura que viria a servir de telhado cederam, arrastando milhares de toneladas de ferro e betão.

A empresa Vaniplic, que se dedica à montagem de portas interiores, pavimentos flutuantes, tetos falsos, entre outros serviços na área da construção civil, tinha uma equipa de quatro trabalhadores na obra e outra equipa com dois elementos a cerca de um quilómetro de distância, noutra empreitada, que se deslocou ao local ao acidente e foi transmitindo informações para Portugal.

Quer o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quer o Primeiro-Ministro, António Costa, apresentaram condolências às famílias enlutadas.

O primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, enviou a António Costa uma mensagem de condolências às famílias dos trabalhadores que morreram.

O embaixador de Portugal na Bélgica, Rui Tereno, acompanhou a visita do Rei Filipe da Bélgica ao local do acidente.

O Governo português disponibilizou-se para ajudar as famílias das vítimas.

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