Objetivo primeiro dessa distinção: tornar impossível, principalmente se a tal se acrescentar a óbvia dificuldade de se conseguirem provas, qualquer condenação jurídico-penal.
Depois, por exemplo, a “cunha”, a velha, tradicional, arreigada “cunha”, não é considerada corrupção.
É um gesto amigo. Uma pancadinha nas costas. Uma troca (hoje por ti, amanhã por mim).
Esta impossibilidade de punição, e mesmo de crítica, permite algumas interpretações que chegam a ser hilariantes.
Numa entrevista recente, um ex-árbitro de futebol, por muitos coroado como exemplo, garantia, a pés juntos e sem fazer figas, que nunca o tinham conseguido corromper.
Não que não tivessem tentado. E por muitas vezes. E gente importante. Mas nunca aceitara qualquer prenda.
E dava um exemplo: “Não aceitei uma oferta do Siza Vieira, ex-presidente do Beira-Mar, que era um serviço de jantar que, por sinal, ainda está em minha casa nas mesmas condições em que chegou: encaixotado.” (Revista Focus)
Juro. Eu seja ceguinho se não foi isto que ele disse e ficou escrito.
Por isso é que, quando ouço alguém dizer que em Portugal não há corruptos, pergunto a mim próprio: “Quanto é que este gajo terá recebido para dizer uma coisa destas?”
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