A embarcação, de catorze metros de comprimento e bandeira holandesa, estava a navegar desde a Croácia, onde foi comprada há pouco mais de um mês, para os Países Baixos, terra-natal dos proprietários. Fazia a ligação entre Lisboa e Porto quando, ao largo da Nazaré, pelas três e meia da manhã, Michael Levering, de 32 anos, diz ter sentido o barco “ser atingido algumas vezes e vi o leme a girar sem parar, e não havia propulsão porque o piloto automático não devia permitir, e então ouvi a respiração de uma orca”. “Não consegui ver nada, mas eram orcas”, contou, adiantando que tentou dirigir a embarcação para terra, como é recomendado nestes casos.
O barco adornou junto ao designado “canto das pedras” debaixo do promontório da Nazaré. Pouco depois apareceu ajuda. Foram pescadores que se encontravam na zona que prestaram o primeiro auxílio. “Ficámos surpreendidos quando chegámos à praia e algumas pessoas vieram logo perguntar se precisávamos de ajuda. Contaram-me que viram que o barco estava a mudar de rumo, então vieram ver se estava tudo bem”, relatou Julia Perchuda, de 31 anos, que é designer gráfica e trabalha a partir do veleiro.
Michael Levering, que foi analista financeiro num banco e motorista de transporte de mercadorias pesadas e excecionais, deixando de lado temporariamente este trabalho para se dedicar às viagens no mar, acrescentou que “vi uma pessoa na praia com uma lanterna e pensei: “Preciso de ajuda!”. Peguei na minha própria lanterna e fiz sinal para ele, como que a dizer: “Por favor, ajude-nos!”
Na sequência de um alerta recebido pelas seis e meia da manhã, foram de imediato ativados tripulantes da Estação Salva-vidas da Nazaré e elementos da Polícia Marítima da Nazaré, que complementaram o socorro. “À chegada ao local, constatou-se que os dois tripulantes do veleiro se encontravam bem fisicamente, sem necessidade de assistência médica”, reportou o comandante da Capitania da Nazaré, João Lourenço.
Passou-se então à operação de remoção do veleiro da praia. “Contámos com o apoio da embarcação de pesca “Força Divina” e de uma equipa de mergulhadores profissionais de Peniche, que veio verificar as condições de estanquidade da embarcação, e com os meios do Serviço Municipal de Proteção Civil e dos Bombeiros Voluntários da Nazaré puxámos a embarcação para mar e depois foi rebocada para o porto da Nazaré”, indicou o responsável da Capitania.
“O casal proprietário foi notificado que só poderá voltar a navegar após ser alvo de uma vistoria, a fim de garantir as condições de navegabilidade da embarcação”, referiu. A inspeção irá permitir apurar a dimensão dos estragos causados.
Quanto ao ataque das orcas, a capitania para já diz que “desconhecem-se as causas que estão na origem da ocorrência”, avançando apenas que está a investigar a situação relatada pelo casal, que tem no veleiro a sua “habitação”, uma vez que não tem casa, e que agora aguarda em terra, em alojamento disponibilizado pelo Município da Nazaré, a altura em que poderá regressar ao mar.









