As situações mais frequentes dizem respeito à violência psicológica e física e, embora a maioria das vítimas seja de nacionalidade portuguesa, o GAVVD acompanha também pessoas brasileiras, venezuelanas, moçambicanas, entre outras.
O gabinete presta apoio social, acompanhamento psicológico e aconselhamento, reforçando o papel do município no combate à violência doméstica e no apoio direto às vítimas.
Para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra a Mulher, o Município promoveu duas iniciativas de sensibilização. No dia 25 de novembro, cerca de uma centena de pessoas participou na caminhada “Nós Caminhamos por Elas”, organizada pelo GAVVD. Integrada na efeméride, a iniciativa assumiu-se como um gesto simbólico de solidariedade e apoio para com todas as vítimas de violência doméstica.
A caminhada teve início junto à Câmara Municipal e contou com a participação do grupo de bombos da Escola Técnica Empresarial do Oeste, que acompanhou os participantes ao longo de todo o percurso, dando maior visibilidade à causa. A iniciativa contou ainda com o apoio da Frutalvor, que distribuiu maçãs aos participantes, da PSP e da Universidade Sénior Rainha Dona Leonor.
Foi no âmbito desta caminhada que o presidente da Câmara Municipal, Vítor Marques, dirigiu uma mensagem de mobilização à comunidade. “Pelo terceiro ano consecutivo, a Câmara Municipal, através do GAVVD, organiza a caminhada ‘Nós Caminhamos por Elas’,” recordou.
“Quando uma em cada três mulheres na União Europeia já foi vítima de violência física, sexual ou de ameaças ao longo da sua vida adulta, não podemos, em consciência, ficar indiferentes. Esta é uma realidade dura, persistente e absolutamente inaceitável, que tem de ser combatida com firmeza, com responsabilidade e com união”, salientou Vitor Marques.
Sobre o trabalho desenvolvido pelo Município, o autarca acrescentou que “desde 2014 que o Município tem assumido um papel ativo nesta área, percorrendo um caminho sólido no apoio às vítimas. Temos vindo a reforçar respostas ao nível social, psicológico e jurídico, mas também nas áreas fundamentais da prevenção, sensibilização e capacitação. Porque apoiar é essencial, mas prevenir é transformador”.
“A caminhada de hoje representa um gesto simples, mas profundamente significativo. É um ato público de solidariedade, de compromisso e de respeito por todas as mulheres que viveram ou vivem situações de violência. Caminhamos por elas, mas também caminhamos por todas as que ainda não conseguem dar o primeiro passo”, afirmou o presidente.
Tertúlia “Poder, Género e Violência”
As ações prosseguiram no dia 27 de novembro, no Espaço de Turismo, com um momento de diálogo dedicado ao tema “Poder, Género e Violência”, promovido pelo Gabinete Municipal de Psicologia em parceria com o GAVVD.
Segundo a vereadora responsável pelo pelouro da Ação Social, Conceição Henriques, o objetivo da tertúlia foi promover conhecimento para capacitar as pessoas a atuarem em situações de violência de género e doméstica. “Queremos reforçar a consciência comunitária e sublinhar a importância de uma rede de apoio eficaz e acessível a todas as vítimas”, afirmou.
A vereadora destacou ainda um dado simbólico da sessão, que contou com cerca de 30 participantes e a “presença de apenas um homem, contratado para registar a sessão como fotógrafo”. “Ainda assim, este é um espaço essencial para as mulheres falarem sobre a realidade da violência. Muitas pessoas deveriam estar aqui, mas não têm motivação para participar. É importante recordar que a violência doméstica não é apenas de homens sobre mulheres, há também casos entre mulheres, em idosos ou mesmo em casais onde as mulheres exercem violência sobre os homens. Mas evidenciamos a violência contra as mulheres porque os números que temos não mentem e no contexto familiar e conjugal, é uma realidade grave e persistente”, contou.
“Muitas vezes fechamo-nos aos problemas como um mecanismo de defesa, como se ignorá-los nos protegesse. Mas há momentos como este em que somos chamados a refletir sobre uma realidade dura. Cada um de nós pode ser portador do espírito de proteção das pessoas”, adiantou.
A iniciativa contou com a intervenção de Rute Azevedo, técnica superior da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), que iniciou a sua participação lendo o livro As Mulheres e os Homens, de Equipo Plantel, ilustrado por Luci Gutiérrez.
Rute Azevedo abordou ainda conceitos de género e poder, estereótipos e desigualdades, sublinhando que “a violência de género não é um fenómeno recente nem restrito a uma sociedade. As mulheres situam-se historicamente entre os grupos mais agredidos no seio familiar”.
Rute Azevedo abordou a evolução do reconhecimento da violência de género como problema social, desde os movimentos feministas das décadas de 1960 e 1970 até à Conferência Mundial de Pequim, em 1995, e à ratificação da Convenção do Conselho da Europa de 2014, que reforça o compromisso de Portugal na prevenção e combate à violência contra as mulheres.
Revelou que “uma em cada três mulheres em todo o mundo sofre violência física ou sexual ao longo da vida, e em Portugal há uma denúncia de violência doméstica a cada 20 minutos”.
Durante a intervenção, a psicóloga destacou conceitos fundamentais sobre género e poder, explicando que “o género se refere a papéis e comportamentos socialmente construídos para homens e mulheres, enquanto o sexo se define pelas características biológicas, que nem sempre são mutuamente exclusivas”.
A técnica destacou ainda a importância de compreender os estereótipos de género, que “classificam pessoas com base no sexo, limitando escolhas, comportamentos e oportunidades, e contribuem para a discriminação e para a perpetuação da violência”.
Por fim, reforçou que “o sexismo mantém hierarquias de poder que dificultam às mulheres terminar com a violência, e normas de género mais rígidas agravam estas desigualdades, afetando a vitimização e perpetração da violência nas relações íntimas”.
A tertúlia contou ainda com a participação de Catarina Pereira, técnica de apoio à vítima no GAVVD, que apresentou dados nacionais e estatísticas locais sobre violência doméstica. A sessão transformou-se num debate dinâmico, com várias intervenções do público, e foi moderada pela psicóloga Adriana Brites, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde do Gabinete Municipal de Psicologia.
Os participantes tiveram a oportunidade de partilhar experiências, esclarecer dúvidas e discutir estratégias de prevenção, reforçando a importância do diálogo, da reflexão e da educação comunitária como ferramentas essenciais no combate à violência de género e doméstica.










